PAZ PARA VIVER: 07 - Viver a Salvação
Introdução: Talvez devêssemos chamar ao tema de hoje: Ser ou não Ser. “Ser ou não ser, eis a questão.” Shakespeare
Na nossa relação uns com os outros, isto é, marido com esposa, filhos com pais, empregados com patrões, entre os políticos existe frequentemente uma relação de força ou de disputa de poder.
Relações não normais, mas que tocam com frequência a loucura. A luta por direitos, a luta por um espaço. A luta por poder, leva frequentemente a relações de frustração.
E isto pode acontecer na nossa relação com Deus. Deus é grande, eu sou pequeno. Deus sabe tudo, eu sei muito pouco. Deus tem todo o poder, eu não tenho poder. E, sem me dar conta, a minha relação com Deus é uma relação de tensão. Ora, se já vivo em tensão com toda a gente que me rodeia e se a minha relação com Aquele que quer que eu seja uma pessoa feliz, realizada, em paz, é uma relação de disputa, ou me torno incrédulo, ou entro numa depressão, ou passo a detestar o próprio Deus.
Se olharmos Jesus e as pessoas que O seguiam, encontramos diferentes tipos de relação:
As multidões que O seguiam – a maior parte era por interesse – procuravam os milagres. Eles sofriam fisicamente: eram paralíticos, cegos, com lepra... O que queriam era ser tocados por Jesus. Seguiam-n’O por interesse, portanto.
Outros, apreciavam as Suas boas palavras. Palavras que transportavam paz. Eles desejavam muito essa paz, por isso O seguiam.
Satisfeitas as suas necessidades, a sua vida em pouco ou nada se alterava em termos espirituais.
Um grupo numeroso de pessoas – os discípulos como se designavam – gostavam de O ouvir falar. Sentavam-se nas montanhas, deliciavam-se com as palavras, mas o coração estava longe de aceitar Jesus como Salvador pessoal. Ouvir sim, agir não.
Porém, entre o numeroso grupo de pessoas, algumas destacavam-se. Por exemplo, os setenta participavam directamente na Obra de Jesus. Anunciavam o dia em que o Salvador ia passar e iam lá. – Envolvimento, compromisso. Foram beneficiados por Jesus e agiram para que outros desfrutassem também.
Os doze discípulos, que o Senhor escolheu para os ter sempre consigo chegaram a fazer milagres espantosos, a testemunhar a outros, com poder, que Jesus era o Filho de Deus.
Os três íntimos – Pedro, Tiago e João – viveram momentos especiais e privilegiados com Jesus: a Transfiguração, o Getsémani, a Ressurreição.
João, o “discípulo que Jesus amava”, reclinava-se sobre o peito de Jesus. Sentia que Jesus tinha um amor especial por ele.
Cada um de nós é livre de ter ou não uma relação com Jesus. Cada um tem a liberdade sem que Deus o obrigue a ter a relação que quiser com Ele. Eu quero ter a relação de João. E sei que cada um de vós a quer ter também. Por isso estão aqui. Acontece que uma relação como a que João tinha com Jesus foi fruto de um processo de caminhar, de altos e baixos. Mas João afeiçoou-se a Jesus e no final da sua vida até falava como Jesus: “Meus filhinhos” ou “meus amados”.
Estou certo que vocês também querem, como eu, entrar neste processo. Louvo ao Senhor por esse vosso acariciado desejo. E oro para que cada um pertença à intimidade de Jesus, que O sinta tão próximo que recline a cabeça e sinta que é o “amado(a) de Jesus”. Podem crer que Jesus já vos ama de uma forma muito especial.
O processo a que nos referíamos, refere-se à aprendizagem do conhecimento pessoal de Jesus, e Ele dá-Se a conhecer. Não só através dos sentimentos, das emoções, da Sua presença tão perceptível na vida interior, espiritual, mas podemos conhecê-l’O de uma forma especial, onde Ele Se apresenta em plenitude: na Bíblia.
Os homens e mulheres que pensam sentem a necessidade de se ligar a Jesus de uma forma sólida, firme. Sentem necessidade de ter uma relação de princípios e não exclusivamente filosófica ou sentimental.
É natural que o Criador do Universo Se revele através de multifacetadas formas, como por exemplo: a Consciência, a Natureza, os Milagres, a História, a Arqueologia, a Astronomia, o Genoma Humano e a Bíblia. Cito estes com a certeza plena de que Deus não se limitará a estes.
Nós, porém, não poderemos ir além de dois ou três porque o tempo nos impede de tocar em todos. Como por exemplo: o Sofrimento. Eu creio que o Sofrimento é uma forma sublime de Deus Se revelar. De nos falar e ensinar tantas coisas!
O Sofrimento.
O sofrimento pode ser uma escola onde o Senhor é um Mestre Sublime na forma como Se apresenta diante dos meus olhos e da minha fé. Eu pertenço àquele grupo de pessoas que necessita de passar pelas provas, pelas dificuldades, para se achegar mais e mais ao amado Senhor.
É muito conhecido o pensamento que diz: “Algumas vezes Deus precisa de derrubar-nos de costas para que olhemos para cima.”
Quantas vezes tem acontecido, na minha vida, ver muito mais numa lágrima do que se estivesse a espreitar por um telescópio! A dor e o sofrimento, não são sinais da ira de Deus, como muita gente pensa, mas exactamente o contrário. Deus é o próprio a dizer: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo. Portanto, sê zeloso, e arrepende-te.” Apocalipse 3:19
“Algumas vezes Deus lava os olhos dos Seus filhos com lágrimas, para que eles possam ver correctamente a Sua providência e os Seus mandamentos.” T.L Cuyler.
Experiência do Emanuel: O meu “único” filho, tinha 24 anos, andava na Faculdade em Biologia. Um dia chegou a casa e queixou-se que tinha dores na parte interior do joelho. Como ele praticava badmington com alguns colegas, pensei que tivesse sido uma torção, um movimento brusco a provocar essa dor. Fiz-lhe uma massagem com um creme e pensei que no outro dia ele já estaria bom.
Mas em catadupa, o sofrimento provocado pelo agravamento do seu estado aumentava. Eram dores no ombro, transpiração nocturna, febre, perda de peso. Alguma coisa de grave se passava. Os médicos tentavam descobrir, mas sem resultados concretos. Faziam-se exames com muita frequência mas não se conseguia determinar a causa exacta.
Um dia, um médico quis ter uma conversa com o meu filho. Ao sair do gabinete, as lágrimas eram reflexo de muito sofrimento na alma. “Paizinho”, disse ele, “o médico suspeita que eu tenho SIDA. Ó, meu Deus, como é isto possível?” gritava ele.
Vivi, com a minha mulher, uma dura prova. Falávamos com Deus e derramávamos a nossa alma perante Ele. Porém a situação continuava cada vez mais ameaçadora. Para complicar a situação um jovem, primo em terceiro grau do meu filho, ficou também doente, com os mesmos sintomas, e foi internado no Hospital de Coimbra.
No dia em que os médicos nos deram poucas esperanças de melhoras, recebi a notícia de que o primo tinha falecido. Sou muito amigo dos pais, e sabendo do seu sofrimento, procurei consolá-los com a minha própria dor. Creio, no entanto, que eles eram dotados duma capacidade de suportar a perda, muito maior do que a minha.
A minha prece consistia praticamente em suplicar: “Senhor, cura o meu filho, por favor! Reclamo esse milagre no poder da Tua Palavra e pelos méritos de Jesus.”
Mas a resposta não chegava. E eu começava a analisar a minha vida e dizia a Deus: “Senhor, tenho procurado anunciar com toda a energia da minha alma o Teu Evangelho. Tenho procurado viver uma vida limpa aos Teus olhos. Por que razão não curas o meu filho?”
Ficava praticamente bloqueado. A minha mulher tinha muito mais confiança do que eu. Ela estava animada, ela sabia que o Senhor é Deus, e que amava mais o nosso filho do que nós próprios. Mas eu ainda não tinha passado pelo processo da compreensão do amor de Deus.
Até que um dia, caminhando junto ao mar, comecei a falar com Deus. E fiz esta oração: “Não desejo nada do que existe na Terra, a não ser o Teu puro amor no meu peito. Isto, e somente isto, eu peço. E entrego tudo, inclusive o meu amado filho ao Teu cuidado.”
Não tenho a menor dúvida de que realmente a partir dali o meu filho começou a melhorar. Hoje ele é um homem saudável e forte. Consagrou a sua vida a servir o Senhor junto das pessoas que sofrem com fome, doenças, guerra. Presentemente está no Malawi, antes esteve em Angola e vários anos em São Tomé e Principe. A sua felicidade e alegria está no Senhor e no sorriso límpido das crianças que ele ajuda.
Nunca como nesta experiência, senti o Senhor Jesus tão perto de mim. Poderão, no entanto, dizer: “Bom, mas é a sua experiência pessoal. Reconheço que é pessoal. É o meu testemunho. Mas o mais importante é o testemunho da própria Bíblia porque ela é a Biografia da Pessoa de Deus.
Não ignoramos que nos últimos séculos foram muitos os intelectuais que quiseram anular a autoridade e veracidade da Bíblia e em especial mostrar que Jesus não é quem a Bíblia afirma ser: O Filho de Deus.
Ora, é muito importante para o crente ter confiança absoluta na Bíblia e em Jesus: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” João 17:17
“Em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos.” Actos 4:12.
A fé, para o crente, é o bem mais precioso. É um tesouro que dá não só segurança na vida, mas que dá segurança face à morte. É na Bíblia e em Jesus que se funda a nossa esperança na glória eterna. Por isso somos convidados a aprofundar o nosso conhecimento em Jesus Cristo, e somos avisados por Pedro: “Antes santificai a Cristo, como Senhor, nos vossos corações; e estai sempre preparados para responder, com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” I Pedro 3:15
A História
Porém uma pergunta, ao apresentar este assunto, estará na mente dos nossos amigos: Será que Jesus não passa dum personagem mítico, ou simplesmente, um grande Homem?
Este é um direito que têm. Devo, no entanto, afirmar que não foram os Evangelistas a escrever sobre Jesus. Também os historiadores e até os inimigos de Jesus falaram d’Ele, e isso dá uma autoridade incontestável.
Tácito, um dos governadores no ano 70 da nossa era, disse: “Cristo foi executado sob as ordens de Pôncio Pilatos, e os Seus discípulos foram perseguidos...” Annais XV, 44.
Celso, chamado o Voltaire do 2.º Século, sob o reino de Marco Aurélio, estudou a fundo para refutar o cristianismo. Ele orgulhava-se de ter documentos da vida de Jesus que eram únicos. Apesar do escárnio com que fala de Cristo, reconhece a Sua existência e os factos da Sua vida. (Origène, Contra Celsum, II, 13, 33, 59.)
Flavius Josefo, patriota judeu, mais tarde protegido do Império Romano, grande historiador, na sua obra: “Antiguidades Judaicas”, escrita entre o ano 93-94 (ED): “Nesse tempo vivia Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem. Porque foi protagonista de obras extraordinárias, mestre, daqueles que recebem a verdade com alegria. Arrastou muitos judeus e muitos outros, vindos do helenismo. Era o Cristo. E quando Pilatos o mandou crucificar por denúncia do nosso povo, os que o tinham amado, não o abandonaram. De facto, ao terceiro dia Ele lhes apareceu vivo, tal como lhes tinha dito, fez ainda muitas maravilhas. Até hoje, subsiste o grupo chamado do seu nome, os cristãos.”
Jos. Flavius, Antiquitates XVIII,3,3, édit. B. Niese IV, Berolini, Weidmann 1890, 151 sq.
Suetónio menciona Jesus, de forma breve, na biografia que escreveu do Imperador Cláudio. Vita Claudii, c.25
Tácito, cônsul no ano 97 da nossa era, fala de Cristo crucificado sob autoridade de Pôncio Pilatos, bem como das perseguições aos cristãos. Annales XV, 44.
Plínio, governador da Bitínia, afirma nas suas cartas ao imperador Trajano que os fiéis adoravam o Cristo como Deus e que eram respeitadores de normas estritas e de grande moral. Epístola, X, 96.
Phlégon, libertado por Adriano, fala do eclipse do sol que se seguiu à morte de Cristo, e acrescenta que Jesus durante a Sua vida tinha predito estas coisas, especialmente a morte. Origenes, Contra Celsum II, 13,33,59.
Poderiam ser citadas muitas outras fontes, porém temos consciência que não são elas que nos levam à verdadeira fé. Para mim o mais importante é o testemunho deixado pelos discípulos. Ainda que alguém me venha dizer: “Mas os discípulos não eram pessoas de estudos, não eram historiadores...”
Reconheço que os evangelistas não eram historiadores, como o foram Tucídides ou Tácito, e menos ainda segundo as exigências e a forma de escrever a história. Faltava-lhes o método, a formação científica, o sentido crítico. Aliás, eles podiam dispensar tudo isso de forma evidente. Para eles não se tratava de resolver grandes problemas, nem de fazer escavações, ou pesquisas em bibliotecas poeirentas, cheias de documentos nem sempre fiáveis, para extrair factos passados e credíveis.
Os evangelistas só tinham de escrever, como sabiam, os factos muito concretos que presenciavam. Fizeram-no com uma grande simplicidade, pois tinha sido assim que eles os tinham presenciado na presença de milhares de pessoas ainda vivas quando eles escreveram. Os evangelistas não tinham que julgar o lado miraculoso de Jesus, nem a parte sobrenatural dos Seus ensinos. Eles escreviam o que o Mestre fazia e dizia.
Por exemplo, eles viam, sem a mínima dúvida, que Ele restituía a vista aos cegos, que num instante Ele acalmava o mar, os ventos e as vagas, que Ele ressuscitava os mortos. Que Ele expulsava os demónios, que Ele ressuscitou Lázaro que estava há quatro dias no sepulcro. Os discípulos só tinham que escrever o que se passou.
Outro exemplo, quando Jesus viu, num funeral, uma mãe chorar pelo seu filho que ia a enterrar, Ele mandou parar o cortejo, abriu o caixão, ressuscitou o jovem e restituiu-o à sua querida mãe. Acham que é preciso para isto uma formação crítica, universitária? O que é preciso, é ter discernimento, faculdade destituída de preconceitos, olhos que vêem, e o sentido da inteligência prática.
Ora, os evangelistas possuíam todas estas qualidades em alto grau. Não se nota neles o mais leve traço de fanatismo. Nota-se, isso sim, um modo de ver as coisas de forma tranquila, sóbria e isenta de paixão. Mesmo quando poderíamos esperar uma apologia, uma opinião pessoal, ou como nós dizemos em português “um puxar a brasa à sua sardinha”, o que se encontra é a anotação de factos puros e simples.
Isto mostra que eles estavam particularmente qualificados para anotar fielmente os factos evangélicos, e eles são dignos de crédito. Leiam comigo a forma sublime de Lucas expôr as coisas sagradas: “Tendo muitos empreendido uma narração dos factos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra, pareceu-me também conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que foste ensinado.” Lucas 1:1-4
O único objectivo de Lucas é o de ser um fotógrafo ou um pintor que pinta o retrato exacto de Jesus. E isto à luz de factos reais, acontecimentos históricos insuspeitáveis e incontestáveis. Esta concordância de objectivos, entre todos os evangelistas, sem saberem o que o outro tinha exactamente escrito, traça a vida de Jesus.
Só João parece mais enérgico, e mesmo contundente, parece que já se levantavam algumas dúvidas e ele declara: “E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também o creiais.” João 19:35
E na epístola afirma-se como uma testemunha assumida do que escreve: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo da vida (pois a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificámos dela, e vos anunciámos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada). O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão connosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com o seu Filho Jesus Cristo.” I João 1:1-3.
Não toquem em Jesus, porque então João, o filho do trovão, levanta-se e grita: “Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.” João 21:24.
Desta maneira, os Apóstolos constroem uma obra de história, onde os gestos tão lindos de Jesus sobressaem. Eles não escrevem uma única linha de coisas que eles não tenham presenciado. Não apresentam nenhum episódio do qual tivessem alguma dúvida.
Deixem-me dizer-vos uma coisa, uma coisa muito importante. Eu não quero que fiquem a pensar que os Evangelistas eram pessoas perfeitas. Eram homens com alguma rudez, bem diferentes daquilo em que se tornaram depois da Ressurreição de Jesus. É a ressurreição e a descida do Espírito Santo que os vai transformar, que os levará a nascer de novo.
Especialmente Mateus, Marcos e João, evidenciam os sentimentos dos Apóstolos como homens que ainda não tinham entrado na realidade da paz para viver, da vida que repousa em Cristo. Vemo-los terem as atitudes que tinham os judeus ambiciosos, que esperavam o filho de David como monarca absoluto, a vencer os Romanos que na época os dominavam. Vemos discípulos que, antecipadamente, saboreiam o esplendor de um reino em que ocupariam os primeiros lugares, os lugares de honra. Desejos, caldeados de invejas mesquinhas, apesar dos avisos contínuos do divino Mestre!
Depois da ressurreição, eles juntam-se, cheios de medo, numa velha casa e de repente aparece-lhes Aquele que há três dias tinha sido morto: “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.” João 20:19
Tudo muda! A realidade era agora bem contrária ao que eles tinham sonhado. Perceberam que no lugar do reino da vontade própria, dos jogos de poder, eram desafiados a uma dimensão espiritual. No lugar da terra, era um reino celeste. No lugar de um salvador de Israel, era um Salvador Universal para todos os pecadores. No lugar de um herói nacional, era o Filho de Deus ao encontro de cada homem e mulher, não só para aquele tempo, mas para todas as gerações. Jesus tinha-Se tornado, com a Sua morte e ressurreição, o Amigo ao alcance da mão.
Da tua mão. Estende a mão e toca Jesus. Podes deixar-te envolver pelo calor da Sua divina presença!
Jesus é um ser de carne e de sangue, que veio viver entre os homens como um de nós, e apesar da consciência que tem da Sua alta missão, Ele fala e age como homem. Ele senta-Se à mesa do fariseu e do publicano. Ele deixa-Se tocar pela pecadora que vem derramar incenso sobre os Seus pés e enxuga-lhos com os seus cabelos. Ele fala amigavelmente com os Seus discípulos. Ele é tentado pelo Demónio. Opera milagres por pura compaixão e pede para não serem divulgados. No jardim do Getsémani fica triste e o suor transforma-se em grandes gotas de sangue.
Conserva a calma e a dignidade diante dos juízes que O julgam. Deixa-Se injuriar. Na cruz sai da Sua alma um grito que ainda ressoa nos corações daqueles e daquelas que têm necessidade de paz para viver.
A Sua voz ainda ressoa nos corações de muitos que se deixam tocar por Jesus, e o coração fica transformado como ficou o coração dos discípulos, cujo desejo era ter a oportunidade de morrer pronunciando o nome de Jesus.
A Bíblia é a biografia de Jesus. A Bíblia é comparável a um grande projector dirigido sobre o céu e sobre a terra, iluminando um Personagem, uma Pessoa que é o centro das Escrituras.
Ilustração:
Um dia alguém foi visitar um faroleiro e disse-lhe:
– O senhor não sente medo de viver aqui? É terrível, este lugar! Como é possível ficar aqui dia e noite?!
– Eu não tenho medo – respondeu o faroleiro. Neste lugar nunca pensamos em nós mesmos.
– Não estou a perceber! Nunca pensa em si?
– Eu sei que estou perfeitamente seguro, a minha preocupação é manter as lâmpadas acesas e manter os reflectores bem limpos, de modo que aqueles que se encontram em perigo, no mar, possam ser salvos.
É este o sentimento dos escritores sagrados ao reflectirem, com toda a clareza, a luz que sobre eles incidiu.
Experiência:
Conheci uma senhora, em Peniche, por quem tive muita admiração. O marido era pescador e, como sabem, o mar em certas alturas do ano é perigoso. São muitas as pessoas que nele têm perdido a vida. Embora os barcos estejam hoje melhor equipados, e os portos tenham melhores condições de navegabilidade, a verdade é que continuam a morrer pessoas nas costas portuguesas.
O marido entrava no mar, em Peniche, por volta das 3 h da manhã. Estava escuro, o nevoeiro era intenso, e tornava-se difícil encontrar o acesso. Durante o período em que realizei o meu ministério pastoral em Peniche, muitas pessoas morreram e a algumas fui eu que oficiei a cerimónia religiosa.
Um dia, conversando com esta senhora (Albertina) e com o marido, este explicou-me o que fazia a esposa todas as madrugadas. Levantava-se, guiava o carro e colocava-se na parte mais extrema do cabo de Peniche com os faróis acesos, fazendo com frequência sinais de faróis. Ela não via o barco, mas ela sabia que algures, no meio daquele denso nevoeiro, o marido, exausto de uma noite de luta no mar bravio, voltava e precisava de ter um ponto de referência para saber como entrar no porto.
Ela ficava ali, firme, quer chovesse, quer fizesse frio. Ela sabia qual a sua missão para que o seu marido voltasse para casa a salvo.
A Bíblia é este farol que nos ilumina, na noite, o caminho cada vez mais carregado de nevoeiro. Ilumina-nos Jesus, o Porto de Abrigo.
“E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis, em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça nos vossos corações.” II Pedro 1:19
A Estrela da Manhã é um dos nomes de Jesus Cristo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de David, a resplandecente estrela da manhã.” Apocalipse 22:16
O objectivo real do estudo da Bíblia é projectar luz que ilumine Jesus, de tal maneira que não restem sombras, não fiquem dúvidas, das Suas intenções em relação a cada um dos seres humanos. Que, ao vê-l’O tal como é, compreensivo, terno, amigo, Ele entre nos nossos sentimentos, nas nossas emoções, na nossa vida e nos transforme. Ele tem poder para isso, mas só o usa com o nosso consentimento.
Chamo a vossa atenção para as palavras de Jesus falando com os mestres do Seu tempo e que eram profundos conhecedores das Escrituras: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis vir a mim para terdes vida.” João 5:39, 40
Ter uma Bíblia ou várias não salvará ninguém. A salvação está exclusivamente dependente da permissão para que Jesus entre na vida, de modo a tomarmos o Seu conselho de forma séria e coerente.
Reparem no que Ele diz aos chefes judeus em João 5:39, 40: “Examinais as Escrituras, porque pensais ter nelas a vida eterna. São estas mesmas Escrituras que testificam de mim.”
Quando Jesus disse estas palavras, só o Antigo Testamento existia. O Novo Testamento não tinha ainda sido escrito. Jesus declarou aos Seus discípulos que os escritos do Antigo Testamento falam d’Ele. No Seu tempo o Antigo Testamento estava organizado em três partes:
– A Lei.
– Os Profetas.
– Os Salmos.
“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse, estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos salmos. Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as Escrituras.” Lucas 24:44, 45.
O Novo Testamento é a parte da Sagrada Escritura escrita por aqueles que conviveram com Jesus, ou que privaram com eles, como é o caso de Lucas e Marcos.
A Bíblia é a geradora e mantenedora da verdadeira fé. Devemos ter muito cuidado quando afirmamos ter fé, e não lemos nem ouvimos as Santas Escrituras. Porque elas declaram que: “A fé vem pelo ouvir e o ouvir a Palavra de Deus.” Romanos 10:17
Outro aspecto da vida espiritual muito importante, é que Deus nunca prometeu revelar a verdade a quem não está disposto a obedecer-Lhe. Mas Jesus prometeu: “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus, ou se falo de mim mesmo.”
Vou ser extremamente duro no que vou dizer. Ninguém gosta de ouvir isto: – Há pessoas que dizem que têm dificuldade em compreender a Bíblia, como se fosse um problema de inteligência, ou de dificuldade bíblica. A verdade não está aí, está no nosso coração que é duro para obedecer a Deus.
A natureza humana prefere descer pela ladeira mais fácil, do que empreender um caminho que apresenta alguma dificuldade de natureza carnal. Isto é, mudança de hábitos, de estilo de vida, integrar princípios. É muito mais fácil encontrar um sem número de desculpas!
Antes de 1947, era legítimo colocar dúvidas à forma como os textos sagrados tinham sido transmitidos, relativamente à sua autenticidade. Em 1947, foram descobertos os famosos rolos ou fragmentos de rolos de diferentes livros do Antigo Testamento, escondidos no primeiro século da nossa era, nas grutas vizinhas ao Mar Morto.
Estes manuscritos têm mais de mil anos em relação a todos os que se encontram nos Museus. E eles vieram confirmar que a Bíblia é absolutamente fiel.
A Bíblia continua a ser como uma bússola na qual podemos depositar toda a nossa confiança, por isso não devemos modificar nem alterar o sentido dos textos.
Ilustração: Era uma noite de Inverno. Nevava e um homem perdeu-se numa floresta. De repente lembrou-se que tinha uma pequena bússola.
Quando a colocou em posição para que ela lhe indicasse o Norte verificou que ela lhe indicava a direcção oposta àquela em que seguia. Ele estava seguro de ter razão. Convencido que a bússola estava danificada, atirou-a ao chão e esmagou-a com os pés. No dia seguinte o seu corpo foi encontrado completamente congelado, com a bússola toda partida ali ao seu lado.
Certas pessoas acham-se no direito de modificar a bússola de Deus. Disso, podem ter a certeza, resulta a morte espiritual. Quando a bússola de Deus, a Bíblia, indica que estamos a caminhar na direcção errada deveríamos, com humildade, reconhecer e mudar de direcção.
Devemos caminhar na direcção que ela nos indica se queremos chegar ao porto seguro, ou seja, à paz, ao equilíbrio interior. Fazendo-o obteremos saúde física, mental e espiritual. É exactamente o que diz este texto: “Mas, a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Provérbios 4:18.
Ilustração: O pai e o filho voltavam para casa, uma noite. A lanterna só iluminava uma pequena parte do caminho. O rapaz perguntou ao pai, como iriam chegar a casa com uma luz tão pequenina. A resposta do pai foi cheia de sabedoria e de uma grande lição espiritual: “Se caminharmos com a luz que temos, ela brilhará até ao fim da viagem.”
A Bíblia diz, em I João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.”
Se caminharmos iluminados pela Bíblia, ela nos conduzirá a Jesus Cristo, o Salvador – a Luz do Mundo.
Ilustração: Alguém que não acreditava em Deus, um dia salvou uma criança órfã da morte certa num terrível incêndio. Como tinha perdido a esposa e o filho num acidente, o tribunal colocou algumas dificuldades no seu desejo de querer adoptar a criança. Só que ele conseguiu ganhar a causa ao mostrar as mãos mutiladas pelo fogo, no esforço para salvar aquela criança.
Um dia, pai e filho adoptivo visitaram um museu. Uma pintura em particular chamou a atenção do rapazinho. Ela representava Jesus a falar com o incrédulo Tomé. Jesus mostrava as mãos marcadas pelas cicatrizes.
– Conta-me a história deste quadro – pediu o menino.
– Não, essa não.
– Porquê?
– Porque não creio nessa história.
– Mas tens-me contado a história do lobo mau e eu sei que tu não acreditas nela!
Finalmente o pai adoptivo contou a história de Jesus e Tomé. A criança deu um grito e exclamou:
– Essa história é parecida com a nossa, não é verdade, papá? Não é bom Tomé dizer que não acredita que Jesus morreu por ele. Que dirias se depois de me teres salvo do incêndio, eu dissesse que não acreditava em ti?
Realmente o argumento mais poderoso em favor da Bíblia é a história do Calvário, e a transformação que Jesus continua a operar na vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Quer também que Jesus, esta noite, fique ao alcance da sua mão para lhe dar novo rumo? Não temos nada a perder, só a ganhar com Jesus. Eu sou alguém que encontrou em Jesus o poder maravilhoso da transformação. Sinto as palavras reconfortantes que os discípulos ouviram. Elas são verdade que brilha, poder que opera, santidade que edifica.
Todo o que medita nas palavras do Evangelho, num espírito despojado de preconceitos e com um coração sincero, convence-se a si próprio que Jesus viveu, morreu e ressuscitou para nos salvar, para me salvar. Como poderia eu, como disse o menino, salvo de uma morte certa no incêndio, negar que Jesus me salvou depois de o ter feito?
Como poderia eu negar o meu Senhor? Ainda que o fizesse, eu sei que mesmo assim, Ele Se viraria para mim, como olhou para Pedro, naquela noite em que o Apóstolo, que tinha prometido ir com Ele até à morte, O negou três vezes: “E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe tinha dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.” Lucas 22:61
Rodeado de inimigos cruéis que O escarneciam, esperando ser vítima de ultrajes sem conta, ainda assim, o Misericordioso Jesus pensou no Seu pobre e extraviado discípulo. Esse olhar estranho, único, foi uma mensagem de ternura, de perdão, que tocou no coração de Pedro. Ele jamais pôde esquecer aquele olhar!
Jesus podia ter levantado a mão e apontado Pedro: “Traíste-me”. Poderia ter olhado de forma severa, mas esse olhar silencioso e carregado de pena e ternura atravessou-lhe o coração e abriu uma fonte de lágrimas!
A história militar revela-nos que castelos, considerados inexpugnáveis, como o eram as muralhas de Santarém, por exemplo, foram capturadas, porque os atacantes, usando uma estratégia astuta e matreira, se infiltraram por uma rota aparentemente impossível de ser escalada. Mas era justamente aí que os defensores estavam mais desprevenidos.
Foi também o que aconteceu com a famosa Linha Marginot – considerada pelos franceses como intransponível, aquando da Segunda Guerra Mundial. Os alemães apenas a contornaram, invadindo a Bélgica.
De maneira idêntica procede o inimigo da nossa alma. Ele é muito astuto... Sim, o inimigo das nossas almas procura atacar o homem nos seus pontos mais vulneráveis.
Em muitos, o ponto mais vulnerável pode ser o preconceito. Ou o temor do que possam dizer os familiares, os amigos!
Acham como Pedro, naquela noite, que o importante era estar perto do lugar onde Jesus Se encontrava. Jesus estava a ser julgado, batido, escarnecido, tinham-n’O despido e cuspiam-Lhe na cara. Pedro estava sentado junto à fogueira com os que não se importavam com Jesus!
Onde está você hoje! Será que Jesus pode olhar para si? Será que o olhar de Jesus pode fazer correr dos seus olhos uma lágrima de gratidão?
Pr. José Carlos Costa
Na nossa relação uns com os outros, isto é, marido com esposa, filhos com pais, empregados com patrões, entre os políticos existe frequentemente uma relação de força ou de disputa de poder.
Relações não normais, mas que tocam com frequência a loucura. A luta por direitos, a luta por um espaço. A luta por poder, leva frequentemente a relações de frustração.
E isto pode acontecer na nossa relação com Deus. Deus é grande, eu sou pequeno. Deus sabe tudo, eu sei muito pouco. Deus tem todo o poder, eu não tenho poder. E, sem me dar conta, a minha relação com Deus é uma relação de tensão. Ora, se já vivo em tensão com toda a gente que me rodeia e se a minha relação com Aquele que quer que eu seja uma pessoa feliz, realizada, em paz, é uma relação de disputa, ou me torno incrédulo, ou entro numa depressão, ou passo a detestar o próprio Deus.
Se olharmos Jesus e as pessoas que O seguiam, encontramos diferentes tipos de relação:
As multidões que O seguiam – a maior parte era por interesse – procuravam os milagres. Eles sofriam fisicamente: eram paralíticos, cegos, com lepra... O que queriam era ser tocados por Jesus. Seguiam-n’O por interesse, portanto.
Outros, apreciavam as Suas boas palavras. Palavras que transportavam paz. Eles desejavam muito essa paz, por isso O seguiam.
Satisfeitas as suas necessidades, a sua vida em pouco ou nada se alterava em termos espirituais.
Um grupo numeroso de pessoas – os discípulos como se designavam – gostavam de O ouvir falar. Sentavam-se nas montanhas, deliciavam-se com as palavras, mas o coração estava longe de aceitar Jesus como Salvador pessoal. Ouvir sim, agir não.
Porém, entre o numeroso grupo de pessoas, algumas destacavam-se. Por exemplo, os setenta participavam directamente na Obra de Jesus. Anunciavam o dia em que o Salvador ia passar e iam lá. – Envolvimento, compromisso. Foram beneficiados por Jesus e agiram para que outros desfrutassem também.
Os doze discípulos, que o Senhor escolheu para os ter sempre consigo chegaram a fazer milagres espantosos, a testemunhar a outros, com poder, que Jesus era o Filho de Deus.
Os três íntimos – Pedro, Tiago e João – viveram momentos especiais e privilegiados com Jesus: a Transfiguração, o Getsémani, a Ressurreição.
João, o “discípulo que Jesus amava”, reclinava-se sobre o peito de Jesus. Sentia que Jesus tinha um amor especial por ele.
Cada um de nós é livre de ter ou não uma relação com Jesus. Cada um tem a liberdade sem que Deus o obrigue a ter a relação que quiser com Ele. Eu quero ter a relação de João. E sei que cada um de vós a quer ter também. Por isso estão aqui. Acontece que uma relação como a que João tinha com Jesus foi fruto de um processo de caminhar, de altos e baixos. Mas João afeiçoou-se a Jesus e no final da sua vida até falava como Jesus: “Meus filhinhos” ou “meus amados”.
Estou certo que vocês também querem, como eu, entrar neste processo. Louvo ao Senhor por esse vosso acariciado desejo. E oro para que cada um pertença à intimidade de Jesus, que O sinta tão próximo que recline a cabeça e sinta que é o “amado(a) de Jesus”. Podem crer que Jesus já vos ama de uma forma muito especial.
O processo a que nos referíamos, refere-se à aprendizagem do conhecimento pessoal de Jesus, e Ele dá-Se a conhecer. Não só através dos sentimentos, das emoções, da Sua presença tão perceptível na vida interior, espiritual, mas podemos conhecê-l’O de uma forma especial, onde Ele Se apresenta em plenitude: na Bíblia.
Os homens e mulheres que pensam sentem a necessidade de se ligar a Jesus de uma forma sólida, firme. Sentem necessidade de ter uma relação de princípios e não exclusivamente filosófica ou sentimental.
É natural que o Criador do Universo Se revele através de multifacetadas formas, como por exemplo: a Consciência, a Natureza, os Milagres, a História, a Arqueologia, a Astronomia, o Genoma Humano e a Bíblia. Cito estes com a certeza plena de que Deus não se limitará a estes.
Nós, porém, não poderemos ir além de dois ou três porque o tempo nos impede de tocar em todos. Como por exemplo: o Sofrimento. Eu creio que o Sofrimento é uma forma sublime de Deus Se revelar. De nos falar e ensinar tantas coisas!
O Sofrimento.
O sofrimento pode ser uma escola onde o Senhor é um Mestre Sublime na forma como Se apresenta diante dos meus olhos e da minha fé. Eu pertenço àquele grupo de pessoas que necessita de passar pelas provas, pelas dificuldades, para se achegar mais e mais ao amado Senhor.
É muito conhecido o pensamento que diz: “Algumas vezes Deus precisa de derrubar-nos de costas para que olhemos para cima.”
Quantas vezes tem acontecido, na minha vida, ver muito mais numa lágrima do que se estivesse a espreitar por um telescópio! A dor e o sofrimento, não são sinais da ira de Deus, como muita gente pensa, mas exactamente o contrário. Deus é o próprio a dizer: “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo. Portanto, sê zeloso, e arrepende-te.” Apocalipse 3:19
“Algumas vezes Deus lava os olhos dos Seus filhos com lágrimas, para que eles possam ver correctamente a Sua providência e os Seus mandamentos.” T.L Cuyler.
Experiência do Emanuel: O meu “único” filho, tinha 24 anos, andava na Faculdade em Biologia. Um dia chegou a casa e queixou-se que tinha dores na parte interior do joelho. Como ele praticava badmington com alguns colegas, pensei que tivesse sido uma torção, um movimento brusco a provocar essa dor. Fiz-lhe uma massagem com um creme e pensei que no outro dia ele já estaria bom.
Mas em catadupa, o sofrimento provocado pelo agravamento do seu estado aumentava. Eram dores no ombro, transpiração nocturna, febre, perda de peso. Alguma coisa de grave se passava. Os médicos tentavam descobrir, mas sem resultados concretos. Faziam-se exames com muita frequência mas não se conseguia determinar a causa exacta.
Um dia, um médico quis ter uma conversa com o meu filho. Ao sair do gabinete, as lágrimas eram reflexo de muito sofrimento na alma. “Paizinho”, disse ele, “o médico suspeita que eu tenho SIDA. Ó, meu Deus, como é isto possível?” gritava ele.
Vivi, com a minha mulher, uma dura prova. Falávamos com Deus e derramávamos a nossa alma perante Ele. Porém a situação continuava cada vez mais ameaçadora. Para complicar a situação um jovem, primo em terceiro grau do meu filho, ficou também doente, com os mesmos sintomas, e foi internado no Hospital de Coimbra.
No dia em que os médicos nos deram poucas esperanças de melhoras, recebi a notícia de que o primo tinha falecido. Sou muito amigo dos pais, e sabendo do seu sofrimento, procurei consolá-los com a minha própria dor. Creio, no entanto, que eles eram dotados duma capacidade de suportar a perda, muito maior do que a minha.
A minha prece consistia praticamente em suplicar: “Senhor, cura o meu filho, por favor! Reclamo esse milagre no poder da Tua Palavra e pelos méritos de Jesus.”
Mas a resposta não chegava. E eu começava a analisar a minha vida e dizia a Deus: “Senhor, tenho procurado anunciar com toda a energia da minha alma o Teu Evangelho. Tenho procurado viver uma vida limpa aos Teus olhos. Por que razão não curas o meu filho?”
Ficava praticamente bloqueado. A minha mulher tinha muito mais confiança do que eu. Ela estava animada, ela sabia que o Senhor é Deus, e que amava mais o nosso filho do que nós próprios. Mas eu ainda não tinha passado pelo processo da compreensão do amor de Deus.
Até que um dia, caminhando junto ao mar, comecei a falar com Deus. E fiz esta oração: “Não desejo nada do que existe na Terra, a não ser o Teu puro amor no meu peito. Isto, e somente isto, eu peço. E entrego tudo, inclusive o meu amado filho ao Teu cuidado.”
Não tenho a menor dúvida de que realmente a partir dali o meu filho começou a melhorar. Hoje ele é um homem saudável e forte. Consagrou a sua vida a servir o Senhor junto das pessoas que sofrem com fome, doenças, guerra. Presentemente está no Malawi, antes esteve em Angola e vários anos em São Tomé e Principe. A sua felicidade e alegria está no Senhor e no sorriso límpido das crianças que ele ajuda.
Nunca como nesta experiência, senti o Senhor Jesus tão perto de mim. Poderão, no entanto, dizer: “Bom, mas é a sua experiência pessoal. Reconheço que é pessoal. É o meu testemunho. Mas o mais importante é o testemunho da própria Bíblia porque ela é a Biografia da Pessoa de Deus.
Não ignoramos que nos últimos séculos foram muitos os intelectuais que quiseram anular a autoridade e veracidade da Bíblia e em especial mostrar que Jesus não é quem a Bíblia afirma ser: O Filho de Deus.
Ora, é muito importante para o crente ter confiança absoluta na Bíblia e em Jesus: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” João 17:17
“Em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devemos ser salvos.” Actos 4:12.
A fé, para o crente, é o bem mais precioso. É um tesouro que dá não só segurança na vida, mas que dá segurança face à morte. É na Bíblia e em Jesus que se funda a nossa esperança na glória eterna. Por isso somos convidados a aprofundar o nosso conhecimento em Jesus Cristo, e somos avisados por Pedro: “Antes santificai a Cristo, como Senhor, nos vossos corações; e estai sempre preparados para responder, com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” I Pedro 3:15
A História
Porém uma pergunta, ao apresentar este assunto, estará na mente dos nossos amigos: Será que Jesus não passa dum personagem mítico, ou simplesmente, um grande Homem?
Este é um direito que têm. Devo, no entanto, afirmar que não foram os Evangelistas a escrever sobre Jesus. Também os historiadores e até os inimigos de Jesus falaram d’Ele, e isso dá uma autoridade incontestável.
Tácito, um dos governadores no ano 70 da nossa era, disse: “Cristo foi executado sob as ordens de Pôncio Pilatos, e os Seus discípulos foram perseguidos...” Annais XV, 44.
Celso, chamado o Voltaire do 2.º Século, sob o reino de Marco Aurélio, estudou a fundo para refutar o cristianismo. Ele orgulhava-se de ter documentos da vida de Jesus que eram únicos. Apesar do escárnio com que fala de Cristo, reconhece a Sua existência e os factos da Sua vida. (Origène, Contra Celsum, II, 13, 33, 59.)
Flavius Josefo, patriota judeu, mais tarde protegido do Império Romano, grande historiador, na sua obra: “Antiguidades Judaicas”, escrita entre o ano 93-94 (ED): “Nesse tempo vivia Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem. Porque foi protagonista de obras extraordinárias, mestre, daqueles que recebem a verdade com alegria. Arrastou muitos judeus e muitos outros, vindos do helenismo. Era o Cristo. E quando Pilatos o mandou crucificar por denúncia do nosso povo, os que o tinham amado, não o abandonaram. De facto, ao terceiro dia Ele lhes apareceu vivo, tal como lhes tinha dito, fez ainda muitas maravilhas. Até hoje, subsiste o grupo chamado do seu nome, os cristãos.”
Jos. Flavius, Antiquitates XVIII,3,3, édit. B. Niese IV, Berolini, Weidmann 1890, 151 sq.
Suetónio menciona Jesus, de forma breve, na biografia que escreveu do Imperador Cláudio. Vita Claudii, c.25
Tácito, cônsul no ano 97 da nossa era, fala de Cristo crucificado sob autoridade de Pôncio Pilatos, bem como das perseguições aos cristãos. Annales XV, 44.
Plínio, governador da Bitínia, afirma nas suas cartas ao imperador Trajano que os fiéis adoravam o Cristo como Deus e que eram respeitadores de normas estritas e de grande moral. Epístola, X, 96.
Phlégon, libertado por Adriano, fala do eclipse do sol que se seguiu à morte de Cristo, e acrescenta que Jesus durante a Sua vida tinha predito estas coisas, especialmente a morte. Origenes, Contra Celsum II, 13,33,59.
Poderiam ser citadas muitas outras fontes, porém temos consciência que não são elas que nos levam à verdadeira fé. Para mim o mais importante é o testemunho deixado pelos discípulos. Ainda que alguém me venha dizer: “Mas os discípulos não eram pessoas de estudos, não eram historiadores...”
Reconheço que os evangelistas não eram historiadores, como o foram Tucídides ou Tácito, e menos ainda segundo as exigências e a forma de escrever a história. Faltava-lhes o método, a formação científica, o sentido crítico. Aliás, eles podiam dispensar tudo isso de forma evidente. Para eles não se tratava de resolver grandes problemas, nem de fazer escavações, ou pesquisas em bibliotecas poeirentas, cheias de documentos nem sempre fiáveis, para extrair factos passados e credíveis.
Os evangelistas só tinham de escrever, como sabiam, os factos muito concretos que presenciavam. Fizeram-no com uma grande simplicidade, pois tinha sido assim que eles os tinham presenciado na presença de milhares de pessoas ainda vivas quando eles escreveram. Os evangelistas não tinham que julgar o lado miraculoso de Jesus, nem a parte sobrenatural dos Seus ensinos. Eles escreviam o que o Mestre fazia e dizia.
Por exemplo, eles viam, sem a mínima dúvida, que Ele restituía a vista aos cegos, que num instante Ele acalmava o mar, os ventos e as vagas, que Ele ressuscitava os mortos. Que Ele expulsava os demónios, que Ele ressuscitou Lázaro que estava há quatro dias no sepulcro. Os discípulos só tinham que escrever o que se passou.
Outro exemplo, quando Jesus viu, num funeral, uma mãe chorar pelo seu filho que ia a enterrar, Ele mandou parar o cortejo, abriu o caixão, ressuscitou o jovem e restituiu-o à sua querida mãe. Acham que é preciso para isto uma formação crítica, universitária? O que é preciso, é ter discernimento, faculdade destituída de preconceitos, olhos que vêem, e o sentido da inteligência prática.
Ora, os evangelistas possuíam todas estas qualidades em alto grau. Não se nota neles o mais leve traço de fanatismo. Nota-se, isso sim, um modo de ver as coisas de forma tranquila, sóbria e isenta de paixão. Mesmo quando poderíamos esperar uma apologia, uma opinião pessoal, ou como nós dizemos em português “um puxar a brasa à sua sardinha”, o que se encontra é a anotação de factos puros e simples.
Isto mostra que eles estavam particularmente qualificados para anotar fielmente os factos evangélicos, e eles são dignos de crédito. Leiam comigo a forma sublime de Lucas expôr as coisas sagradas: “Tendo muitos empreendido uma narração dos factos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra, pareceu-me também conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que tenhas plena certeza das coisas em que foste ensinado.” Lucas 1:1-4
O único objectivo de Lucas é o de ser um fotógrafo ou um pintor que pinta o retrato exacto de Jesus. E isto à luz de factos reais, acontecimentos históricos insuspeitáveis e incontestáveis. Esta concordância de objectivos, entre todos os evangelistas, sem saberem o que o outro tinha exactamente escrito, traça a vida de Jesus.
Só João parece mais enérgico, e mesmo contundente, parece que já se levantavam algumas dúvidas e ele declara: “E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também o creiais.” João 19:35
E na epístola afirma-se como uma testemunha assumida do que escreve: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo da vida (pois a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificámos dela, e vos anunciámos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada). O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão connosco. E a nossa comunhão é com o Pai, e com o seu Filho Jesus Cristo.” I João 1:1-3.
Não toquem em Jesus, porque então João, o filho do trovão, levanta-se e grita: “Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.” João 21:24.
Desta maneira, os Apóstolos constroem uma obra de história, onde os gestos tão lindos de Jesus sobressaem. Eles não escrevem uma única linha de coisas que eles não tenham presenciado. Não apresentam nenhum episódio do qual tivessem alguma dúvida.
Deixem-me dizer-vos uma coisa, uma coisa muito importante. Eu não quero que fiquem a pensar que os Evangelistas eram pessoas perfeitas. Eram homens com alguma rudez, bem diferentes daquilo em que se tornaram depois da Ressurreição de Jesus. É a ressurreição e a descida do Espírito Santo que os vai transformar, que os levará a nascer de novo.
Especialmente Mateus, Marcos e João, evidenciam os sentimentos dos Apóstolos como homens que ainda não tinham entrado na realidade da paz para viver, da vida que repousa em Cristo. Vemo-los terem as atitudes que tinham os judeus ambiciosos, que esperavam o filho de David como monarca absoluto, a vencer os Romanos que na época os dominavam. Vemos discípulos que, antecipadamente, saboreiam o esplendor de um reino em que ocupariam os primeiros lugares, os lugares de honra. Desejos, caldeados de invejas mesquinhas, apesar dos avisos contínuos do divino Mestre!
Depois da ressurreição, eles juntam-se, cheios de medo, numa velha casa e de repente aparece-lhes Aquele que há três dias tinha sido morto: “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco.” João 20:19
Tudo muda! A realidade era agora bem contrária ao que eles tinham sonhado. Perceberam que no lugar do reino da vontade própria, dos jogos de poder, eram desafiados a uma dimensão espiritual. No lugar da terra, era um reino celeste. No lugar de um salvador de Israel, era um Salvador Universal para todos os pecadores. No lugar de um herói nacional, era o Filho de Deus ao encontro de cada homem e mulher, não só para aquele tempo, mas para todas as gerações. Jesus tinha-Se tornado, com a Sua morte e ressurreição, o Amigo ao alcance da mão.
Da tua mão. Estende a mão e toca Jesus. Podes deixar-te envolver pelo calor da Sua divina presença!
Jesus é um ser de carne e de sangue, que veio viver entre os homens como um de nós, e apesar da consciência que tem da Sua alta missão, Ele fala e age como homem. Ele senta-Se à mesa do fariseu e do publicano. Ele deixa-Se tocar pela pecadora que vem derramar incenso sobre os Seus pés e enxuga-lhos com os seus cabelos. Ele fala amigavelmente com os Seus discípulos. Ele é tentado pelo Demónio. Opera milagres por pura compaixão e pede para não serem divulgados. No jardim do Getsémani fica triste e o suor transforma-se em grandes gotas de sangue.
Conserva a calma e a dignidade diante dos juízes que O julgam. Deixa-Se injuriar. Na cruz sai da Sua alma um grito que ainda ressoa nos corações daqueles e daquelas que têm necessidade de paz para viver.
A Sua voz ainda ressoa nos corações de muitos que se deixam tocar por Jesus, e o coração fica transformado como ficou o coração dos discípulos, cujo desejo era ter a oportunidade de morrer pronunciando o nome de Jesus.
A Bíblia é a biografia de Jesus. A Bíblia é comparável a um grande projector dirigido sobre o céu e sobre a terra, iluminando um Personagem, uma Pessoa que é o centro das Escrituras.
Ilustração:
Um dia alguém foi visitar um faroleiro e disse-lhe:
– O senhor não sente medo de viver aqui? É terrível, este lugar! Como é possível ficar aqui dia e noite?!
– Eu não tenho medo – respondeu o faroleiro. Neste lugar nunca pensamos em nós mesmos.
– Não estou a perceber! Nunca pensa em si?
– Eu sei que estou perfeitamente seguro, a minha preocupação é manter as lâmpadas acesas e manter os reflectores bem limpos, de modo que aqueles que se encontram em perigo, no mar, possam ser salvos.
É este o sentimento dos escritores sagrados ao reflectirem, com toda a clareza, a luz que sobre eles incidiu.
Experiência:
Conheci uma senhora, em Peniche, por quem tive muita admiração. O marido era pescador e, como sabem, o mar em certas alturas do ano é perigoso. São muitas as pessoas que nele têm perdido a vida. Embora os barcos estejam hoje melhor equipados, e os portos tenham melhores condições de navegabilidade, a verdade é que continuam a morrer pessoas nas costas portuguesas.
O marido entrava no mar, em Peniche, por volta das 3 h da manhã. Estava escuro, o nevoeiro era intenso, e tornava-se difícil encontrar o acesso. Durante o período em que realizei o meu ministério pastoral em Peniche, muitas pessoas morreram e a algumas fui eu que oficiei a cerimónia religiosa.
Um dia, conversando com esta senhora (Albertina) e com o marido, este explicou-me o que fazia a esposa todas as madrugadas. Levantava-se, guiava o carro e colocava-se na parte mais extrema do cabo de Peniche com os faróis acesos, fazendo com frequência sinais de faróis. Ela não via o barco, mas ela sabia que algures, no meio daquele denso nevoeiro, o marido, exausto de uma noite de luta no mar bravio, voltava e precisava de ter um ponto de referência para saber como entrar no porto.
Ela ficava ali, firme, quer chovesse, quer fizesse frio. Ela sabia qual a sua missão para que o seu marido voltasse para casa a salvo.
A Bíblia é este farol que nos ilumina, na noite, o caminho cada vez mais carregado de nevoeiro. Ilumina-nos Jesus, o Porto de Abrigo.
“E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis, em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça nos vossos corações.” II Pedro 1:19
A Estrela da Manhã é um dos nomes de Jesus Cristo: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de David, a resplandecente estrela da manhã.” Apocalipse 22:16
O objectivo real do estudo da Bíblia é projectar luz que ilumine Jesus, de tal maneira que não restem sombras, não fiquem dúvidas, das Suas intenções em relação a cada um dos seres humanos. Que, ao vê-l’O tal como é, compreensivo, terno, amigo, Ele entre nos nossos sentimentos, nas nossas emoções, na nossa vida e nos transforme. Ele tem poder para isso, mas só o usa com o nosso consentimento.
Chamo a vossa atenção para as palavras de Jesus falando com os mestres do Seu tempo e que eram profundos conhecedores das Escrituras: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis vir a mim para terdes vida.” João 5:39, 40
Ter uma Bíblia ou várias não salvará ninguém. A salvação está exclusivamente dependente da permissão para que Jesus entre na vida, de modo a tomarmos o Seu conselho de forma séria e coerente.
Reparem no que Ele diz aos chefes judeus em João 5:39, 40: “Examinais as Escrituras, porque pensais ter nelas a vida eterna. São estas mesmas Escrituras que testificam de mim.”
Quando Jesus disse estas palavras, só o Antigo Testamento existia. O Novo Testamento não tinha ainda sido escrito. Jesus declarou aos Seus discípulos que os escritos do Antigo Testamento falam d’Ele. No Seu tempo o Antigo Testamento estava organizado em três partes:
– A Lei.
– Os Profetas.
– Os Salmos.
“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse, estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos salmos. Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as Escrituras.” Lucas 24:44, 45.
O Novo Testamento é a parte da Sagrada Escritura escrita por aqueles que conviveram com Jesus, ou que privaram com eles, como é o caso de Lucas e Marcos.
A Bíblia é a geradora e mantenedora da verdadeira fé. Devemos ter muito cuidado quando afirmamos ter fé, e não lemos nem ouvimos as Santas Escrituras. Porque elas declaram que: “A fé vem pelo ouvir e o ouvir a Palavra de Deus.” Romanos 10:17
Outro aspecto da vida espiritual muito importante, é que Deus nunca prometeu revelar a verdade a quem não está disposto a obedecer-Lhe. Mas Jesus prometeu: “Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus, ou se falo de mim mesmo.”
Vou ser extremamente duro no que vou dizer. Ninguém gosta de ouvir isto: – Há pessoas que dizem que têm dificuldade em compreender a Bíblia, como se fosse um problema de inteligência, ou de dificuldade bíblica. A verdade não está aí, está no nosso coração que é duro para obedecer a Deus.
A natureza humana prefere descer pela ladeira mais fácil, do que empreender um caminho que apresenta alguma dificuldade de natureza carnal. Isto é, mudança de hábitos, de estilo de vida, integrar princípios. É muito mais fácil encontrar um sem número de desculpas!
Antes de 1947, era legítimo colocar dúvidas à forma como os textos sagrados tinham sido transmitidos, relativamente à sua autenticidade. Em 1947, foram descobertos os famosos rolos ou fragmentos de rolos de diferentes livros do Antigo Testamento, escondidos no primeiro século da nossa era, nas grutas vizinhas ao Mar Morto.
Estes manuscritos têm mais de mil anos em relação a todos os que se encontram nos Museus. E eles vieram confirmar que a Bíblia é absolutamente fiel.
A Bíblia continua a ser como uma bússola na qual podemos depositar toda a nossa confiança, por isso não devemos modificar nem alterar o sentido dos textos.
Ilustração: Era uma noite de Inverno. Nevava e um homem perdeu-se numa floresta. De repente lembrou-se que tinha uma pequena bússola.
Quando a colocou em posição para que ela lhe indicasse o Norte verificou que ela lhe indicava a direcção oposta àquela em que seguia. Ele estava seguro de ter razão. Convencido que a bússola estava danificada, atirou-a ao chão e esmagou-a com os pés. No dia seguinte o seu corpo foi encontrado completamente congelado, com a bússola toda partida ali ao seu lado.
Certas pessoas acham-se no direito de modificar a bússola de Deus. Disso, podem ter a certeza, resulta a morte espiritual. Quando a bússola de Deus, a Bíblia, indica que estamos a caminhar na direcção errada deveríamos, com humildade, reconhecer e mudar de direcção.
Devemos caminhar na direcção que ela nos indica se queremos chegar ao porto seguro, ou seja, à paz, ao equilíbrio interior. Fazendo-o obteremos saúde física, mental e espiritual. É exactamente o que diz este texto: “Mas, a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Provérbios 4:18.
Ilustração: O pai e o filho voltavam para casa, uma noite. A lanterna só iluminava uma pequena parte do caminho. O rapaz perguntou ao pai, como iriam chegar a casa com uma luz tão pequenina. A resposta do pai foi cheia de sabedoria e de uma grande lição espiritual: “Se caminharmos com a luz que temos, ela brilhará até ao fim da viagem.”
A Bíblia diz, em I João 1:7: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.”
Se caminharmos iluminados pela Bíblia, ela nos conduzirá a Jesus Cristo, o Salvador – a Luz do Mundo.
Ilustração: Alguém que não acreditava em Deus, um dia salvou uma criança órfã da morte certa num terrível incêndio. Como tinha perdido a esposa e o filho num acidente, o tribunal colocou algumas dificuldades no seu desejo de querer adoptar a criança. Só que ele conseguiu ganhar a causa ao mostrar as mãos mutiladas pelo fogo, no esforço para salvar aquela criança.
Um dia, pai e filho adoptivo visitaram um museu. Uma pintura em particular chamou a atenção do rapazinho. Ela representava Jesus a falar com o incrédulo Tomé. Jesus mostrava as mãos marcadas pelas cicatrizes.
– Conta-me a história deste quadro – pediu o menino.
– Não, essa não.
– Porquê?
– Porque não creio nessa história.
– Mas tens-me contado a história do lobo mau e eu sei que tu não acreditas nela!
Finalmente o pai adoptivo contou a história de Jesus e Tomé. A criança deu um grito e exclamou:
– Essa história é parecida com a nossa, não é verdade, papá? Não é bom Tomé dizer que não acredita que Jesus morreu por ele. Que dirias se depois de me teres salvo do incêndio, eu dissesse que não acreditava em ti?
Realmente o argumento mais poderoso em favor da Bíblia é a história do Calvário, e a transformação que Jesus continua a operar na vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
Quer também que Jesus, esta noite, fique ao alcance da sua mão para lhe dar novo rumo? Não temos nada a perder, só a ganhar com Jesus. Eu sou alguém que encontrou em Jesus o poder maravilhoso da transformação. Sinto as palavras reconfortantes que os discípulos ouviram. Elas são verdade que brilha, poder que opera, santidade que edifica.
Todo o que medita nas palavras do Evangelho, num espírito despojado de preconceitos e com um coração sincero, convence-se a si próprio que Jesus viveu, morreu e ressuscitou para nos salvar, para me salvar. Como poderia eu, como disse o menino, salvo de uma morte certa no incêndio, negar que Jesus me salvou depois de o ter feito?
Como poderia eu negar o meu Senhor? Ainda que o fizesse, eu sei que mesmo assim, Ele Se viraria para mim, como olhou para Pedro, naquela noite em que o Apóstolo, que tinha prometido ir com Ele até à morte, O negou três vezes: “E, virando-se o Senhor, olhou para Pedro, e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe tinha dito: Antes que o galo cante hoje, me negarás três vezes.” Lucas 22:61
Rodeado de inimigos cruéis que O escarneciam, esperando ser vítima de ultrajes sem conta, ainda assim, o Misericordioso Jesus pensou no Seu pobre e extraviado discípulo. Esse olhar estranho, único, foi uma mensagem de ternura, de perdão, que tocou no coração de Pedro. Ele jamais pôde esquecer aquele olhar!
Jesus podia ter levantado a mão e apontado Pedro: “Traíste-me”. Poderia ter olhado de forma severa, mas esse olhar silencioso e carregado de pena e ternura atravessou-lhe o coração e abriu uma fonte de lágrimas!
A história militar revela-nos que castelos, considerados inexpugnáveis, como o eram as muralhas de Santarém, por exemplo, foram capturadas, porque os atacantes, usando uma estratégia astuta e matreira, se infiltraram por uma rota aparentemente impossível de ser escalada. Mas era justamente aí que os defensores estavam mais desprevenidos.
Foi também o que aconteceu com a famosa Linha Marginot – considerada pelos franceses como intransponível, aquando da Segunda Guerra Mundial. Os alemães apenas a contornaram, invadindo a Bélgica.
De maneira idêntica procede o inimigo da nossa alma. Ele é muito astuto... Sim, o inimigo das nossas almas procura atacar o homem nos seus pontos mais vulneráveis.
Em muitos, o ponto mais vulnerável pode ser o preconceito. Ou o temor do que possam dizer os familiares, os amigos!
Acham como Pedro, naquela noite, que o importante era estar perto do lugar onde Jesus Se encontrava. Jesus estava a ser julgado, batido, escarnecido, tinham-n’O despido e cuspiam-Lhe na cara. Pedro estava sentado junto à fogueira com os que não se importavam com Jesus!
Onde está você hoje! Será que Jesus pode olhar para si? Será que o olhar de Jesus pode fazer correr dos seus olhos uma lágrima de gratidão?
Pr. José Carlos Costa
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