PAZ PARA VIVER: 01 - Viver a Vida
Introdução: Ao longo da minha experiência como pastor, tenho conversado
com muitas pessoas que viveram traumas na infância ou na adolescência e
que como consequência transportaram um fardo de tristeza durante muitos
anos!
Outras tomaram atitudes de que a sua consciência as acusava, o que as impedia de sentirem paz e equilíbrio interior.
Nesta multidão de pessoas, adolescentes, jovens e adultos, o que mais me impressiona é que mesmo os idosos continuam a viver, no presente, problemas originados há 30, 40 ou mais anos. São pessoas que não desfrutaram da vida plenamente em consequência desse sofrimento – feridas invisíveis para os outros mas latentes e abertas cada dia aos seus próprios olhos.
A preparação dos temas Paz para Viver, foi feita a pensar nesta multidão de pessoas.
As conferências estão organizadas em quatro partes:
1ª) Os problemas que nos fazem sofrer.
Tentaremos identificar o que faz mal à nossa alma, o que provoca a angústia.
2ª) Como agir, como resolver o problema do medo.
3ª) A reconciliação com Jesus.
Como conhecê-l’O pessoalmente. Se quiserem direi como deixar que Ele nos encontre, porque só Cristo nos pode realmente encontrar. É sempre Ele que Se revela, tal como foi com os discípulos de Emaús. É Ele o Bom Pastor que sai ao encontro da ovelha perdida e encontra-a. Coloca-a aos ombros e leva-a com carinho para terreno seguro.
4ª) Os princípios bíblicos – a chave de Deus para entrar no nosso coração.
E assim encontraremos a cura para os sofrimentos, preocupações e angústias para então podermos ter uma vida nova, repleta de confiança e de sentido.
Um fio condutor de ordem espiritual atravessará todos os temas. O ser humano é muito complexo, por isso não podemos nem devemos, por amor à verdade, enveredar por um só caminho. Temos que, cada noite, abrir vias que toquem cada uma das pessoas maravilhosas que nos estão a ver e a ouvir. Pessoas que eu estimo muito e que Jesus ama de todo o Seu coração.
Os vossos problemas não são todos exactamente iguais, por isso devemos responder, com a ajuda do amado Jesus, à expectativa de cada um que virá noite após noite para me ouvir e, ouvindo-me, escutar a Palavra de Deus. Fecho os olhos e faço uma prece:
Senhor, permite que na minha voz vá a paz que cada homem, mulher, jovem e criança precisa. Que, ouvindo-me, deixem entrar na alma o bálsamo que é Jesus, que cura toda a ferida, que leva a paz e o sentido para a vida.
1ª Experiência: Uma Bússola Única.
Tenho uma bússola, que é também relógio de sol, oferecida por uma jovem, num Congresso de Jovens.
Quando me foi oferecida, o que apreciei mais foi o gesto de simpatia com que fui agraciado. Não imaginava, na altura, o valor deste objecto. De facto só anos mais tarde, num seminário sobre a “Paz para Viver” que realizava em França, ao permitir que ela circulasse pelos participantes, um especialista, habituado a observar as coisas com olhos de quem sabe ver o que mais ninguém vê, chama a minha atenção para uma particularidade em que eu nunca tinha reparado.
A bússola tem a data do seu fabrico, de forma disfarçada, entre um ramo de roseira: 1631. Nunca mais este pequeno objecto foi a mesma coisa para mim. Levo-a comigo para onde quer que vá, não me canso de a mostrar e de realçar a sua antiguidade.
A partir de então passei a olhar para ela como um objecto especial. Tenho um particular apreço por ela e até um carinho muito especial. Há anos, quando mostrava esta bússola na Alemanha, a um grupo de amigos, alguém me ofereceu 5000 Marcos. Quando ouvi esta soma, fiquei entusiasmado. Pensei que o melhor que tinha a fazer era vendê-la. Parecia-me muito dinheiro, o que poderia ser útil!
Antes de tomar uma decisão, perguntei a razão do interesse nesta bússola-relógio.
A resposta não se fez esperar: “Certamente que é única”.
Perguntei: “Então qual é o valor?”
“Não tem preço”, respondeu.
Pensei que era proprietário de algo único. Se até ali lhe dava valor, agora passei a dar-lhe um valor superior a 5000 Marcos. A partir daquela altura, de facto, nada me devia separar dela.
Ela é única. E é minha.
Esta é a pergunta que gostaria de colocar a cada um de vós: Quanto pensam que valem?
Que valor têm, para o marido, a esposa, os filhos, os pais, os amigos?
Ao que consta há pessoas que valem muito: O Figo custou uma fortuna, outros jogadores parece que valem só alguns milhares de contos e há pessoas que sentem que não valem nada.
Sabem, até certa altura os adeptos do Barcelona davam-lhe grande valor. Tinham um carinho especial por ele. Mas logo a seguir passaram a detestá-lo.
Um ídolo que caiu em desgraça para os adeptos do Barcelona. O Figo pensou que tinha muito mais valor para os adeptos de futebol. Ficou desiludido. Se é verdade que ele ganhava muito dinheiro, também é verdade que cada vez que entrava no Estádio, durante os anos que serviu o Barcelona, dava tudo quanto tinha e sabia.
Afinal, a estima que lhe tinham não era autêntica, verdadeira. A verdadeira estima, aquela que é alimentada por sentimentos nobres, não deve nem pode desaparecer tão rapidamente do coração.
2ª Experiência:
Li a história de uma casal que seguia viagem de carro e que em determinada altura, e infelizmente, tiveram um acidente no qual perderam a vida. Levavam com eles a sua filhinha de dois anos. A criança ficou ligeiramente ferida, mas nada de grave. Foi conduzida para o hospital e ali permaneceu durante algum tempo.
Não queria comer, não se ria. Dia a dia o olhar perdia o brilho da curiosidade e toda a vitalidade característica duma criança. Os médicos ficaram preocupados. Fizeram os exames mais rigorosos. Pensavam que havia algum problema não detectado nas primeiras observações.
Finalmente concluíram que, de facto, não havia nada de anormal fisicamente. Mas a menina chorava com frequência, especialmente quando queriam obrigá-la a comer. Recusava-se, de forma determinada, a engolir fosse o que fosse.
Uma psicóloga interessou-se pelo caso e passou a dedicar-lhe muito mais tempo do que até ali. Pega-lhe ao colo, canta para ela, dá-lhe carinho. Encosta-a ao peito e assume a “maternidade”, beija, acarinha, chama-lhe querida, dá-lhe verdadeira protecção e amor. A menina começa a comer, a sorrir... e a viver.
Poderíamos chamar-lhe a propriocepção. É o termo que lhe dá o Dicionário. Tem origem no latim proprius “que nos é próprio” e recipere “receber”. Um termo que foi proposto em princípios deste século pelo médico e Prémio Nobel inglês Sir Charles Sherrington. Chamou a propriocepção “ao nosso sentido secreto, o nosso sexto sentido”.
Também chamado cinestesia, este sentido é essencial para a consciência que temos do nosso corpo. Ele informa-nos, a todo o momento, do lugar que ocupamos no espaço, e das posições relativas dos nossos braços, pernas, cabeça e outras partes do corpo. É graças a esta capacidade que somos capazes de levar as mãos ao nariz com os olhos fechados. É este sentido que nos leva a saber ou a apercebermo-nos se temos ou não valor para as pessoas que nos rodeiam.
A propriocepção é fundamental na consciência do nosso eu físico. Mas como pode uma criança desta idade ter esta capacidade?
A verdade é que aquela bebé sentiu no seu pequenino coração, que tinha sido abandonada pelos pais, que eles já não a queriam. Ela não tinha idade para compreender muita coisa, como por exemplo que eles tinham desaparecido num acidente fatal, mas sabia que já não era tratada com os mimos e carinhos que conhecera antes. E não queria viver, porque sentia que não tinha valor, não era amada.
Quanto valor pensa que tem? (aponta para a Câmara)
Que valor acha que tem aos olhos daqueles que o rodeiam? Será que também, sem o saber, lá no fundo, sofre de propriocepção? O seu sexto sentido diz-lhe que não tem valor para as pessoas que o rodeiam?
O Marido.
A Esposa.
Os Filhos
Os Pais.
O Patrão.
Os Professores.
Os Amigos.
Sente, realmente, que é amado pelo que é? Sente no coração um vazio de amor? Sente na sua alma falta de um carinho que possivelmente já conheceu antes?
Não ignoro a importância que tem para a criança, o contacto físico: ser-se agarrada e tocada. Actualmente, sabe-se que o separar a criança da mãe logo à nascença interfere com a ligação natural entre ambas. O contacto físico estimula desde o início o desenvolvimento do bebé e o sentimento maternal da mãe.
3.ª Experiência:
Numa experiência conhecida, criaram-se jovens macacos em jaulas, impedindo-se-lhes o contacto físico com outros animais. Cada macaco podia escolher entre duas “mães adoptivas” artificiais – uma que dava leite, mas não oferecia estímulos tácteis, por isso estava coberta com um pano felpudo. Outra sem leite, mas muito carinhosa, a que os macaquinhos se podiam aconchegar. Estes eram alimentados de forma artificial por um biberão. A maioria preferiu esta mãe à que tinha leite, e muitos dos macaquinhos a quem foi negado o contacto, simplesmente morreram.
No princípio do século 20, na América, os pediatras notaram uma tendência semelhante entre os bebés humanos: quase todas as crianças colocadas em orfanatos antes de 1 ano de idade morriam, mesmo quando bem alimentadas e sujeitas a bons cuidados médicos dentro do estabelecimento.
Todos nós sentimos necessidade de ser protegidos, tocados e amados.
Quantos adultos vivem, ainda hoje, com um espaço vazio no coração, o espaço da estima, do valor, do apreço, que nunca receberam da parte dos pais e, por mais que passem os anos, continuam à espera desse amor?
Sentimo-nos carentes, temos consciência mas não falamos muito sobre isso. Amamos os nossos pais, temos consciência que não foi por mal que não nos deram carinho, e atenção. Não ousamos criticá-los, mas não estamos bem.
Podemos ter conseguido tudo o que desejávamos na vida em termos de consecuções intelectuais, materiais e até familiares. Sentimos, no entanto, que isso não tem preenchido este vazio que sentimos aqui dentro. Porquê?
Foi artigo recente, num grande jornal português. Uma senhora com 70 anos, casada há 50 anos, confessava nunca ter amado o marido. E sentia uma grande tristeza por esse facto. A psicóloga, autora do artigo, depois de vários encontros com esta senhora, acabou por descobrir que ela sofria de carência de amor paternal, o que motivou este desinteresse pelo marido.
A falta, quando pequena, de abraços do pai, em particular, tinha provocado uma carência que, de alguma forma, a tinha impossibilitado de amar.
Haverá mais alguém nestas condições?
Não peço para levantarem a mão. Peço que pensem nos desencantos, nas tristezas que vos têm acompanhado dia e noite, principalmente quando sozinhos. Sobretudo nos momentos de solidão, em que parece que toda a gente está longe, que ninguém nos compreende e que por ninguém somos ouvidos.
Por que razão existe tantas pessoas com uma família simpática, realização profissional, realização económica, cujas necessidades primárias podem ser realmente satisfeitas mas, no entanto, sentem um vazio no peito, uma tristeza na alma, um sentimento frustrante?
Por que razão existem tantas pessoas nos países mais ricos da Europa que põem fim à vida, e muitas delas quando jovens?
Por que razão tantos médicos dizem: “a sua doença não é da minha especialidade, não tenho remédio para ela.”
Talvez no nosso passado bem distante, na nossa meninice, se tenham feito feridas que só Deus pode curar.
E a verdade é que Ele tem remédio para todo o sofrimento.
A verdade é que Deus quer curar-nos esta ferida. Há uma verdade acima de qualquer outra: Ele desejou e deseja que vivamos.
Na Bíblia, as grandes verdades não estão enunciadas como doutrinas, mas transparecem na vida do povo de Israel, ou mesmo na vida de um só homem ou mulher.
Também a verdade bíblica, sobre “Deus quis que eu exista” não se encontra na Bíblia como se esta fosse um catecismo, mas está ilustrada na vida de muitos ali escrita para nos servirem de exemplo:
Moisés
A vida de Moisés é uma experiência de sofrimento e de abandono. Começa quando ele é ainda um bebé indefeso.
Faraó tinha ordenado que todos os meninos que nascessem de mulheres judias fossem lançados ao rio, só as meninas tinham direito a viver.
Vejamos o texto bíblico: “E o rei do Egipto falou às parteiras das hebreias (das quais o nome de uma era Sifra e o nome da outra Pua),
“E disse: Quando ajudardes no parto as hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, matai-o; mas se for filha, então viva.
“As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como o rei do Egipto lhes dissera, antes conservavam os meninos com vida.” Êxodo 1:15-17
“E foi-se um varão da casa de Levi, e casou com uma filha de Levi.
“E a mulher concebeu, e teve um filho, e vendo que ele era formoso, escondeu-o três meses.” Êxodo 2:1, 2
Quando Joquebede ficou grávida pela terceira vez, imaginemos os seus sentimentos. As suas preces eram: Senhor, que seja uma menina!
Foi um rapaz. Durante três meses, Moisés viveu como que na clandestinidade. Podemos imaginar que foi escondido na arca onde era guardada a roupa, os cobertores, para que ninguém o ouvisse chorar.
Quais foram as palavras que ele mais ouviu logo após ter nascido? “Chiu”, “Cala-te”?! Quantas vezes lhe colocaram uma mão na boca para que não saíssem os sons do choro?!
Não podendo suportar esta situação por mais tempo, a mãe pensa num estratagema para salvar o seu filho. Leiamos o texto bíblico:
“Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a betumou com betume e pez; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à borda do rio.
“E a sua irmã postou-se de longe, para saber o que lhe havia de acontecer.
“E a filha de Faraó desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam pela borda do rio; e ela viu a arca no meio dos juncos, e enviou a sua criada, e a tomou.
“E abrindo-a, viu ao menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixão dele, e disse: dos meninos dos hebreus é este.
“Então disse sua irmã à filha de Faraó: Irei eu a chamar uma ama das hebreias, que crie este menino para ti?
“E a filha de Faraó disse-lhe: Vai. E foi-se a moça, e chamou a mãe do menino.
“Então lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino, e cria-mo; eu te darei o teu salário. E a mulher tomou o menino, e criou-o.
“E, sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adoptou; e chamou o seu nome Moisés, e disse: Porque das águas o tenho tirado.” Êxodo 2:3-10
Será que nos é possível imaginar o que terá sentido Moisés, uma criança com três anos, a idade do desmame, quando foi arrancado das doces mãos da sua querida mãe, do carinho da sua irmã e das brincadeiras do seu irmão mais velho, Arão?
Ele deixou aquela casinha humilde, onde havia tanto carinho e amor, e foi levado para o palácio do Faraó, o rei do Egipto. Aí uma mulher, que ele nunca viu, que ele não compreende o que diz, dá-lhe um novo nome, chama-lhe filho e, certamente, obriga-o a pronunciar a palavra mãe.
Ele tem de chamar mãe, a uma pessoa que ele não conhece: “mamã”.
- Eu consigo ouvir este menino chorar.
- Eu consigo sentir os gritos desta criança a chamar pela sua verdadeira mãe.
- Ouço até os seus rogos, súplicas pela presença da sua verdadeira mãe.
Claro que ele teve o privilégio de ser educado em toda a sabedoria egípcia, mas o seu coração de menino preferia as carícias da sua mãe biológica. Há sensações, cheiros da nossa mãe que são únicos e nos acompanham para o resto da vida.
O cheiro da sua mãe era único.
Não é difícil de perceber os traumas e bloqueamentos sentidos pelo menino Moisés.
Não é de admirar que ele tenha ficado gago.
Não é de admirar que o primeiro acto de Moisés, escrito na Bíblia, quando ele tinha quarenta anos, seja matar um egípcio.
Todos os sentimentos de abandono, de raiva, de frustração, recalcados durante tantos anos no fundo do inconsciente, vêm à superfície e fazem dele um assassino, porque ele tinha uma ferida interior completamente aberta.
Hoje essa ferida poderia projectar-se no uso da droga. Pensando que ela preencheria esse terrível espaço vazio. Quantos jovens se iniciam na droga porque se sentiram sempre rejeitados, pelos pais, pelos irmãos, pelos companheiros, pelos professores dos quais necessitavam tanto!
Sempre a rejeição, até que um dia encontram alguém com o mesmo problema. Alguém que fala a mesma linguagem, a linguagem da carência. E começa o abismo da droga, da prostituição, do fundo do poço, do poço vazio, isto é de um rumo sem esperança.
Rebeldia contra os pais.
Rebeldia contra os professores.
Recusa da sociedade.
Recusa da vida.
Recusa de Deus.
Recusamos tudo porque nos sentimos evitados. Será que alguém que neste momento me ouve se identifica com Moisés?
Moisés está consciente do seu acto tresloucado. No entanto há sentimentos que o levam a agir. Matar o egípcio que está dentro dele e que ele projecta no egípcio que bate no israelita com quem ele se identifica.
“Naqueles dias, sendo Moisés já grande, saiu a ter com os seus irmãos e atentou para as suas cargas. Ele viu que um egípcio feria a um hebreu dentre os seus irmãos.
“Olhou de uma banda e de outra banda, e vendo que ninguém ali havia, matou o egípcio, e o escondeu na areia.
“Tornou a sair no dia seguinte, e viu dois hebreus que contendiam. Perguntou ao culpado: Porque feres a teu próximo?
“O homem respondeu: Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Então temeu Moisés, e disse: Certamente este negócio foi descoberto.” Êxodo 2:11-15
Moisés compreende que é recusado como Israelita; e, neste caso, só há uma saída, pensa ele: fugir.
– Foge dele próprio. Mas quando fugimos de nós, não conseguimos fugir dos nossos próprios problemas.
– Foge dos Israelitas. Do seu povo, dos seus irmãos de sangue, que o acusam e o rejeitam.
– E foge do povo. Com quem nunca se sentiu identificado, os egípcios.
Foge.
Pergunto, alguém está a fugir aqui esta noite? Alguém sente que não sabe para onde ir, nem onde se refugiar?
– Foge dele próprio,
– Foge dos seus familiares,
– Foge porque as suas necessidades interiores não são atendidas?
Será que há alguém que sente que tudo foge ao seu redor?
Então eu estou a falar para si. A voz que está a ouvir é a minha, mas quem toca nos seus sentimentos mais profundos, nas feridas abertas que tem no seu coração, é Deus.
Moisés andou a vaguear no deserto durante 40 anos e um dia, aparentemente por um acaso, encontrou Deus.
Mas foi Deus que o procurou. Finalmente Moisés está pronto para encontrar-se com Aquele que pode trazer-lhe a cura interior.
E sabem como?
Moisés percebe que qualquer coisa de especial está a acontecer. Uma sarça do deserto arde e não se consome.
Sabem, quando encontramos Deus, a percepção da Sua presença não se faz sentir apenas de forma exterior, física. Mas, especialmente no interior, nós sentimos aquilo que ninguém pode negar.
E Moisés sente-se na presença de Alguém que nunca está longe. Alguém que é o Único que tem respostas para todas as nossas perguntas:
E clama: “Senhor, quem sou eu?” Êxodo 3:11
Conhecendo-se, ele compreenderá os seus próprios traumatismos de criança.
Não é difícil para Deus explicar-lhe, mas é difícil para Moisés compreender, compreender que somos parte dum processo que por vezes leva anos a compreender.
Deus, no entanto, está pronto a fazer o percurso com Moisés e como um pai amoroso explica tudo, calmamente, ao filho.
Moisés, confuso, balbucia, com a voz a tremer: “Quem sou eu...?”
– Eu não sou nem Egípcio nem Israelita.
– Matei o Egípcio para ser Israelita, para me identificar com o povo que é o meu povo.
– Os Israelitas não me aceitaram, não me compreenderam.
– Quem sou eu?
A psicologia moderna permite-nos compreender a profundidade dos traumas sofridos por Moisés. Sabendo que o equilíbrio emocional da criança se estrutura durante a gravidez e nos primeiros meses de vida.
Ainda no ventre materno.
Sabendo que a filosofia de base da nossa vida e a formação harmoniosa da nossa personalidade são construídas nos primeiros cinco-sete anos de vida.
Durante esse período Moisés tinha mudado de mãe, de cultura, de língua, de religião ... tudo se tinha alterado completamente neste tão importante período de formação.
Um homem ou uma mulher nutrindo sentimentos de indesejado, não pode ser feliz.
Pode ser um bom profissional.
Pode ser um bom pai ou uma boa mãe.
Pode ser um bom cristão.
Mas não é feliz.
Deus responde a Moisés duma forma sublime, dizendo-lhe quem Ele é. Conhecendo quem é Deus realmente, Moisés vai descobrir-se a ele próprio. Ficou a saber que estava nos planos de Deus. Que, amorosamente, o Senhor que fez o céu e a terra nunca o tinha perdido de vista.
David
Deixem-me que vos fale de outro homem da Bíblia que se sentiu indesejado: David.
Talvez David nunca tivesse nascido se a esposa de Jessé, o belemita, conhecesse os métodos contraceptivos que existem hoje. De facto, eles já tinham sete rapazes.
A verdade é que Deus manda Samuel ir a casa de Jessé, dizendo-lhe que tinha escolhido “dentre os seus filhos... um rei.”
Vejamos o texto bíblico:
“Enche o teu vaso de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita. Dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.” I Samuel 16:1
Samuel dirige-se a Belém onde vivia a família e todos os anciãos lhe saem ao encontro.
“Tremendo, perguntaram: É de paz a tua vinda?” I Samuel 16:4
“Respondeu ele: É de paz; vim sacrificar ao Senhor. Consagrai-vos e vinde comigo ao sacrifício. Então ele consagrou a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o sacrifício.” (verso 5)
“Entrando eles, Samuel viu a Eliabe, e pensou: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.” (verso 6)
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura,... porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (verso 7)
“Então chamou Jessé a Abinadab: e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o Senhor.” (verso 8)
“Então Jessé fez passar a Sama: porém disse: Tão pouco a este tem escolhido o Senhor.” (verso 9)
“Assim fez passar Jessé a seus sete filhos diante de Samuel: porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não tem escolhido a estes.” (verso 10)
“Assim perguntou Samuel a Jessé: Acabaram-se os teus filhos? ... Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. ...” (verso 11)
Jessé e a esposa, para um evento tão importante como este em que um dos filhos iria ser escolhido rei de Israel, esqueceram-se do filho mais novo... para eles não possuía atributos para ser rei.
Deus viu de outra maneira: “Levanta-te e unge-o; é este mesmo.” (verso 12)
Nem sequer tinha passado pela cabeça do pai tal coisa. O rapaz só servia mesmo para guardar ovelhas.
David, quando soube o que se tinha passado certamente sofreu, sentiu-se posto de lado.
Quando os seus três irmãos mais velhos foram para a guerra, David só serviu para ser o criado e levar-lhes pão e queijo.
(Texto bíblico:)
“Ora, disse Jessé a David, seu filho: Toma para teus irmãos um efa deste grão tostado e estes dez pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
“Leva também estes dez queijos ao seu comandante de mil. Visitarás a teus irmãos, a ver se vão bem, e trarás notícias deles.” I Samuel 17:17, 18
O irmão mais velho trata-o com desprezo: “Ouvindo Eliabe, seu irmão mais velho, (David) falar àqueles homens (os soldados de Saul), acendeu-se a sua ira contra David, e disse: Porque desceste aqui? E com quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração...” (verso 28)
“Disse David: Que fiz eu agora? Não posso nem fazer uma pergunta?” (verso 29)
“Não tenho direito a falar? Sou vosso criado?”
“Pedi porventura para vir aqui? Será que fui eu que pedi para nascer? Será que não tenho direito a falar, a ter um lugar onde colocar os pés? Sou assim tão miserável?”
Estas são perguntas que estão no seu coração em consequência do modo como é tratado pelos pais, e pelos irmãos. David sentia que estava a mais em todas as situações. Sentia que não era desejado. E eu digo-vos que não há sentimento mais esmagador do que este. Ser expulso do direito à vida.
Será que alguém que me ouve possui este mesmo sentimento?
David só serve para levar recado, fazer o trabalho menor. Saber o que se passa com os irmãos mais velhos mas sem direito a participar.
Para ele só vai o último olhar, a última palavra, o último gesto? Vai o supérfluo, o desnecessário?
Então vou dizer-vos: nada faz doer mais do que isso. É uma dor não exterior, daquelas onde não se pode colocar desinfectante, é uma ferida que só o amor pode curar, mas esse medicamento não se encontra facilmente à disposição.
Este desprezo manifestado pelo pai e pelos irmãos, marcou-o e complexou-o.
Analisemos a sua auto-estima. Por exemplo: quando o rei Saul lhe dá a sua filha Merabe em casamento, David responde:
“Quem sou eu, e qual é a família de meu pai em Israel, para vir a ser genro do rei?” I Samuel 18:18
Mais tarde, o rei Saul, possuído por um espírito maligno não se controla, persegue David por montes e valados. David tem oportunidade de o matar mas não o faz. Vendo o rei de longe, grita:
“Após quem saiu o rei de Israel? A quem persegues? A um cão morto? A uma pulga?” I Samuel 24:14
David considerava-se como uma pulga. A sua família tinha-lhe certamente aplicado este diminutivo, como alcunha.
Deus, que vê mais do que a família, viu nele um rei. Escolheu David, elegeu-o. Foi nesta compreensão do valor que ele tinha aos olhos de Deus que David encontrou a cura para os seus complexos de inferioridade.
David compreendeu que Deus o amava e que era Ele que lhe dava a identidade de ser: ser pessoa, ser homem, ser à imagem de Deus. Mais tarde David escreve:
“Pois criaste o meu interior, entreteceste-me no ventre da minha mãe. Eu te louvo porque de um modo terrível e maravilhoso fui formado. ... Quando fui entretecido nas profundezas da terra, os teus olhos viram o meu corpo ainda informe.” (Salmo 139:14-16)
David estava no pensamento de Deus desde o princípio. Mesmo quando ainda não tinha sido gerado no ventre da sua mãe, Deus já o conhecia.
Deus ainda não tinha formado o primeiro átomo e já conhecia a David. O mesmo se pode dizer em relação a qualquer um de nós.
Somos únicos para Deus, não somos a cópia de ninguém, somos à imagem de Deus.
Foi Deus que decidiu que Moisés e David existissem, viessem à vida, e isto com um objectivo bem preciso, muito concreto.
Nós estamos aqui porque Deus o quis não só no sentido espiritual, mas de forma humana e material. Sem entrar em questões sobre a soberania de Deus e a liberdade do homem, afirmamos: Deus desejou-nos.
Ele amou-nos e viu-nos antes do fundamento do Universo. Ele não esperou que eu chegasse à terra para me dizer: “Bem, como tu nasceste, vou fazer com que as coisas te corram desta ou daquela maneira. Vou amar-te ou desprezar-te.”
Deus amou-me desde sempre, porque desde sempre estive no Seu plano. E isto não se aplica só a Moisés ou a David, mas a cada ser humano que vem a este mundo. É verdade que Deus ama toda a humanidade:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16
Mas ama cada um de forma pessoal. Não se trata de um conceito individual. Jesus afirma a cada passo do Seu ministério este grande amor. Jesus ama-me porque Ele desejou que eu existisse.
David não acreditava nem na Cegonha, nem na origem pela Evolução. Ele acreditava que a nossa origem está no pensamento de Deus, lá na origem do tempo.
Quando a Terra ainda estava informe e vazia, no magma original, Deus viu Adão, esculpido do pó, e viu também cada um de nós.
E eu creio que Deus viu todas as circunstâncias da nossa vida desde a concepção. O meu nascimento no dia 25 de Julho de 1946. Deus viu o pai que tive e a mãe. Não houve nenhum acaso, nenhum acidente.
Será que esta noite podemos dizer:
Deus pensou em mim antes do meu nascimento.
Deus quis que eu nascesse.
Deus criou-me para Sua glória.
Deus escolheu-me.
Deus quer que eu desfrute de paz interior.
Não voltarei a dizer.
Não sirvo para nada!
A minha vida não tem sentido!
Sou uma pulga sem valor, um verme!
Sou um acidente, um fruto não desejado!
Outras tomaram atitudes de que a sua consciência as acusava, o que as impedia de sentirem paz e equilíbrio interior.
Nesta multidão de pessoas, adolescentes, jovens e adultos, o que mais me impressiona é que mesmo os idosos continuam a viver, no presente, problemas originados há 30, 40 ou mais anos. São pessoas que não desfrutaram da vida plenamente em consequência desse sofrimento – feridas invisíveis para os outros mas latentes e abertas cada dia aos seus próprios olhos.
A preparação dos temas Paz para Viver, foi feita a pensar nesta multidão de pessoas.
As conferências estão organizadas em quatro partes:
1ª) Os problemas que nos fazem sofrer.
Tentaremos identificar o que faz mal à nossa alma, o que provoca a angústia.
2ª) Como agir, como resolver o problema do medo.
3ª) A reconciliação com Jesus.
Como conhecê-l’O pessoalmente. Se quiserem direi como deixar que Ele nos encontre, porque só Cristo nos pode realmente encontrar. É sempre Ele que Se revela, tal como foi com os discípulos de Emaús. É Ele o Bom Pastor que sai ao encontro da ovelha perdida e encontra-a. Coloca-a aos ombros e leva-a com carinho para terreno seguro.
4ª) Os princípios bíblicos – a chave de Deus para entrar no nosso coração.
E assim encontraremos a cura para os sofrimentos, preocupações e angústias para então podermos ter uma vida nova, repleta de confiança e de sentido.
Um fio condutor de ordem espiritual atravessará todos os temas. O ser humano é muito complexo, por isso não podemos nem devemos, por amor à verdade, enveredar por um só caminho. Temos que, cada noite, abrir vias que toquem cada uma das pessoas maravilhosas que nos estão a ver e a ouvir. Pessoas que eu estimo muito e que Jesus ama de todo o Seu coração.
Os vossos problemas não são todos exactamente iguais, por isso devemos responder, com a ajuda do amado Jesus, à expectativa de cada um que virá noite após noite para me ouvir e, ouvindo-me, escutar a Palavra de Deus. Fecho os olhos e faço uma prece:
Senhor, permite que na minha voz vá a paz que cada homem, mulher, jovem e criança precisa. Que, ouvindo-me, deixem entrar na alma o bálsamo que é Jesus, que cura toda a ferida, que leva a paz e o sentido para a vida.
1ª Experiência: Uma Bússola Única.
Tenho uma bússola, que é também relógio de sol, oferecida por uma jovem, num Congresso de Jovens.
Quando me foi oferecida, o que apreciei mais foi o gesto de simpatia com que fui agraciado. Não imaginava, na altura, o valor deste objecto. De facto só anos mais tarde, num seminário sobre a “Paz para Viver” que realizava em França, ao permitir que ela circulasse pelos participantes, um especialista, habituado a observar as coisas com olhos de quem sabe ver o que mais ninguém vê, chama a minha atenção para uma particularidade em que eu nunca tinha reparado.
A bússola tem a data do seu fabrico, de forma disfarçada, entre um ramo de roseira: 1631. Nunca mais este pequeno objecto foi a mesma coisa para mim. Levo-a comigo para onde quer que vá, não me canso de a mostrar e de realçar a sua antiguidade.
A partir de então passei a olhar para ela como um objecto especial. Tenho um particular apreço por ela e até um carinho muito especial. Há anos, quando mostrava esta bússola na Alemanha, a um grupo de amigos, alguém me ofereceu 5000 Marcos. Quando ouvi esta soma, fiquei entusiasmado. Pensei que o melhor que tinha a fazer era vendê-la. Parecia-me muito dinheiro, o que poderia ser útil!
Antes de tomar uma decisão, perguntei a razão do interesse nesta bússola-relógio.
A resposta não se fez esperar: “Certamente que é única”.
Perguntei: “Então qual é o valor?”
“Não tem preço”, respondeu.
Pensei que era proprietário de algo único. Se até ali lhe dava valor, agora passei a dar-lhe um valor superior a 5000 Marcos. A partir daquela altura, de facto, nada me devia separar dela.
Ela é única. E é minha.
Esta é a pergunta que gostaria de colocar a cada um de vós: Quanto pensam que valem?
Que valor têm, para o marido, a esposa, os filhos, os pais, os amigos?
Ao que consta há pessoas que valem muito: O Figo custou uma fortuna, outros jogadores parece que valem só alguns milhares de contos e há pessoas que sentem que não valem nada.
Sabem, até certa altura os adeptos do Barcelona davam-lhe grande valor. Tinham um carinho especial por ele. Mas logo a seguir passaram a detestá-lo.
Um ídolo que caiu em desgraça para os adeptos do Barcelona. O Figo pensou que tinha muito mais valor para os adeptos de futebol. Ficou desiludido. Se é verdade que ele ganhava muito dinheiro, também é verdade que cada vez que entrava no Estádio, durante os anos que serviu o Barcelona, dava tudo quanto tinha e sabia.
Afinal, a estima que lhe tinham não era autêntica, verdadeira. A verdadeira estima, aquela que é alimentada por sentimentos nobres, não deve nem pode desaparecer tão rapidamente do coração.
2ª Experiência:
Li a história de uma casal que seguia viagem de carro e que em determinada altura, e infelizmente, tiveram um acidente no qual perderam a vida. Levavam com eles a sua filhinha de dois anos. A criança ficou ligeiramente ferida, mas nada de grave. Foi conduzida para o hospital e ali permaneceu durante algum tempo.
Não queria comer, não se ria. Dia a dia o olhar perdia o brilho da curiosidade e toda a vitalidade característica duma criança. Os médicos ficaram preocupados. Fizeram os exames mais rigorosos. Pensavam que havia algum problema não detectado nas primeiras observações.
Finalmente concluíram que, de facto, não havia nada de anormal fisicamente. Mas a menina chorava com frequência, especialmente quando queriam obrigá-la a comer. Recusava-se, de forma determinada, a engolir fosse o que fosse.
Uma psicóloga interessou-se pelo caso e passou a dedicar-lhe muito mais tempo do que até ali. Pega-lhe ao colo, canta para ela, dá-lhe carinho. Encosta-a ao peito e assume a “maternidade”, beija, acarinha, chama-lhe querida, dá-lhe verdadeira protecção e amor. A menina começa a comer, a sorrir... e a viver.
Poderíamos chamar-lhe a propriocepção. É o termo que lhe dá o Dicionário. Tem origem no latim proprius “que nos é próprio” e recipere “receber”. Um termo que foi proposto em princípios deste século pelo médico e Prémio Nobel inglês Sir Charles Sherrington. Chamou a propriocepção “ao nosso sentido secreto, o nosso sexto sentido”.
Também chamado cinestesia, este sentido é essencial para a consciência que temos do nosso corpo. Ele informa-nos, a todo o momento, do lugar que ocupamos no espaço, e das posições relativas dos nossos braços, pernas, cabeça e outras partes do corpo. É graças a esta capacidade que somos capazes de levar as mãos ao nariz com os olhos fechados. É este sentido que nos leva a saber ou a apercebermo-nos se temos ou não valor para as pessoas que nos rodeiam.
A propriocepção é fundamental na consciência do nosso eu físico. Mas como pode uma criança desta idade ter esta capacidade?
A verdade é que aquela bebé sentiu no seu pequenino coração, que tinha sido abandonada pelos pais, que eles já não a queriam. Ela não tinha idade para compreender muita coisa, como por exemplo que eles tinham desaparecido num acidente fatal, mas sabia que já não era tratada com os mimos e carinhos que conhecera antes. E não queria viver, porque sentia que não tinha valor, não era amada.
Quanto valor pensa que tem? (aponta para a Câmara)
Que valor acha que tem aos olhos daqueles que o rodeiam? Será que também, sem o saber, lá no fundo, sofre de propriocepção? O seu sexto sentido diz-lhe que não tem valor para as pessoas que o rodeiam?
O Marido.
A Esposa.
Os Filhos
Os Pais.
O Patrão.
Os Professores.
Os Amigos.
Sente, realmente, que é amado pelo que é? Sente no coração um vazio de amor? Sente na sua alma falta de um carinho que possivelmente já conheceu antes?
Não ignoro a importância que tem para a criança, o contacto físico: ser-se agarrada e tocada. Actualmente, sabe-se que o separar a criança da mãe logo à nascença interfere com a ligação natural entre ambas. O contacto físico estimula desde o início o desenvolvimento do bebé e o sentimento maternal da mãe.
3.ª Experiência:
Numa experiência conhecida, criaram-se jovens macacos em jaulas, impedindo-se-lhes o contacto físico com outros animais. Cada macaco podia escolher entre duas “mães adoptivas” artificiais – uma que dava leite, mas não oferecia estímulos tácteis, por isso estava coberta com um pano felpudo. Outra sem leite, mas muito carinhosa, a que os macaquinhos se podiam aconchegar. Estes eram alimentados de forma artificial por um biberão. A maioria preferiu esta mãe à que tinha leite, e muitos dos macaquinhos a quem foi negado o contacto, simplesmente morreram.
No princípio do século 20, na América, os pediatras notaram uma tendência semelhante entre os bebés humanos: quase todas as crianças colocadas em orfanatos antes de 1 ano de idade morriam, mesmo quando bem alimentadas e sujeitas a bons cuidados médicos dentro do estabelecimento.
Todos nós sentimos necessidade de ser protegidos, tocados e amados.
Quantos adultos vivem, ainda hoje, com um espaço vazio no coração, o espaço da estima, do valor, do apreço, que nunca receberam da parte dos pais e, por mais que passem os anos, continuam à espera desse amor?
Sentimo-nos carentes, temos consciência mas não falamos muito sobre isso. Amamos os nossos pais, temos consciência que não foi por mal que não nos deram carinho, e atenção. Não ousamos criticá-los, mas não estamos bem.
Podemos ter conseguido tudo o que desejávamos na vida em termos de consecuções intelectuais, materiais e até familiares. Sentimos, no entanto, que isso não tem preenchido este vazio que sentimos aqui dentro. Porquê?
Foi artigo recente, num grande jornal português. Uma senhora com 70 anos, casada há 50 anos, confessava nunca ter amado o marido. E sentia uma grande tristeza por esse facto. A psicóloga, autora do artigo, depois de vários encontros com esta senhora, acabou por descobrir que ela sofria de carência de amor paternal, o que motivou este desinteresse pelo marido.
A falta, quando pequena, de abraços do pai, em particular, tinha provocado uma carência que, de alguma forma, a tinha impossibilitado de amar.
Haverá mais alguém nestas condições?
Não peço para levantarem a mão. Peço que pensem nos desencantos, nas tristezas que vos têm acompanhado dia e noite, principalmente quando sozinhos. Sobretudo nos momentos de solidão, em que parece que toda a gente está longe, que ninguém nos compreende e que por ninguém somos ouvidos.
Por que razão existe tantas pessoas com uma família simpática, realização profissional, realização económica, cujas necessidades primárias podem ser realmente satisfeitas mas, no entanto, sentem um vazio no peito, uma tristeza na alma, um sentimento frustrante?
Por que razão existem tantas pessoas nos países mais ricos da Europa que põem fim à vida, e muitas delas quando jovens?
Por que razão tantos médicos dizem: “a sua doença não é da minha especialidade, não tenho remédio para ela.”
Talvez no nosso passado bem distante, na nossa meninice, se tenham feito feridas que só Deus pode curar.
E a verdade é que Ele tem remédio para todo o sofrimento.
A verdade é que Deus quer curar-nos esta ferida. Há uma verdade acima de qualquer outra: Ele desejou e deseja que vivamos.
Na Bíblia, as grandes verdades não estão enunciadas como doutrinas, mas transparecem na vida do povo de Israel, ou mesmo na vida de um só homem ou mulher.
Também a verdade bíblica, sobre “Deus quis que eu exista” não se encontra na Bíblia como se esta fosse um catecismo, mas está ilustrada na vida de muitos ali escrita para nos servirem de exemplo:
Moisés
A vida de Moisés é uma experiência de sofrimento e de abandono. Começa quando ele é ainda um bebé indefeso.
Faraó tinha ordenado que todos os meninos que nascessem de mulheres judias fossem lançados ao rio, só as meninas tinham direito a viver.
Vejamos o texto bíblico: “E o rei do Egipto falou às parteiras das hebreias (das quais o nome de uma era Sifra e o nome da outra Pua),
“E disse: Quando ajudardes no parto as hebreias, e as virdes sobre os assentos, se for filho, matai-o; mas se for filha, então viva.
“As parteiras, porém, temeram a Deus, e não fizeram como o rei do Egipto lhes dissera, antes conservavam os meninos com vida.” Êxodo 1:15-17
“E foi-se um varão da casa de Levi, e casou com uma filha de Levi.
“E a mulher concebeu, e teve um filho, e vendo que ele era formoso, escondeu-o três meses.” Êxodo 2:1, 2
Quando Joquebede ficou grávida pela terceira vez, imaginemos os seus sentimentos. As suas preces eram: Senhor, que seja uma menina!
Foi um rapaz. Durante três meses, Moisés viveu como que na clandestinidade. Podemos imaginar que foi escondido na arca onde era guardada a roupa, os cobertores, para que ninguém o ouvisse chorar.
Quais foram as palavras que ele mais ouviu logo após ter nascido? “Chiu”, “Cala-te”?! Quantas vezes lhe colocaram uma mão na boca para que não saíssem os sons do choro?!
Não podendo suportar esta situação por mais tempo, a mãe pensa num estratagema para salvar o seu filho. Leiamos o texto bíblico:
“Não podendo, porém, mais escondê-lo, tomou uma arca de juncos, e a betumou com betume e pez; e, pondo nela o menino, a pôs nos juncos à borda do rio.
“E a sua irmã postou-se de longe, para saber o que lhe havia de acontecer.
“E a filha de Faraó desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam pela borda do rio; e ela viu a arca no meio dos juncos, e enviou a sua criada, e a tomou.
“E abrindo-a, viu ao menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixão dele, e disse: dos meninos dos hebreus é este.
“Então disse sua irmã à filha de Faraó: Irei eu a chamar uma ama das hebreias, que crie este menino para ti?
“E a filha de Faraó disse-lhe: Vai. E foi-se a moça, e chamou a mãe do menino.
“Então lhe disse a filha de Faraó: Leva este menino, e cria-mo; eu te darei o teu salário. E a mulher tomou o menino, e criou-o.
“E, sendo o menino já grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adoptou; e chamou o seu nome Moisés, e disse: Porque das águas o tenho tirado.” Êxodo 2:3-10
Será que nos é possível imaginar o que terá sentido Moisés, uma criança com três anos, a idade do desmame, quando foi arrancado das doces mãos da sua querida mãe, do carinho da sua irmã e das brincadeiras do seu irmão mais velho, Arão?
Ele deixou aquela casinha humilde, onde havia tanto carinho e amor, e foi levado para o palácio do Faraó, o rei do Egipto. Aí uma mulher, que ele nunca viu, que ele não compreende o que diz, dá-lhe um novo nome, chama-lhe filho e, certamente, obriga-o a pronunciar a palavra mãe.
Ele tem de chamar mãe, a uma pessoa que ele não conhece: “mamã”.
- Eu consigo ouvir este menino chorar.
- Eu consigo sentir os gritos desta criança a chamar pela sua verdadeira mãe.
- Ouço até os seus rogos, súplicas pela presença da sua verdadeira mãe.
Claro que ele teve o privilégio de ser educado em toda a sabedoria egípcia, mas o seu coração de menino preferia as carícias da sua mãe biológica. Há sensações, cheiros da nossa mãe que são únicos e nos acompanham para o resto da vida.
O cheiro da sua mãe era único.
Não é difícil de perceber os traumas e bloqueamentos sentidos pelo menino Moisés.
Não é de admirar que ele tenha ficado gago.
Não é de admirar que o primeiro acto de Moisés, escrito na Bíblia, quando ele tinha quarenta anos, seja matar um egípcio.
Todos os sentimentos de abandono, de raiva, de frustração, recalcados durante tantos anos no fundo do inconsciente, vêm à superfície e fazem dele um assassino, porque ele tinha uma ferida interior completamente aberta.
Hoje essa ferida poderia projectar-se no uso da droga. Pensando que ela preencheria esse terrível espaço vazio. Quantos jovens se iniciam na droga porque se sentiram sempre rejeitados, pelos pais, pelos irmãos, pelos companheiros, pelos professores dos quais necessitavam tanto!
Sempre a rejeição, até que um dia encontram alguém com o mesmo problema. Alguém que fala a mesma linguagem, a linguagem da carência. E começa o abismo da droga, da prostituição, do fundo do poço, do poço vazio, isto é de um rumo sem esperança.
Rebeldia contra os pais.
Rebeldia contra os professores.
Recusa da sociedade.
Recusa da vida.
Recusa de Deus.
Recusamos tudo porque nos sentimos evitados. Será que alguém que neste momento me ouve se identifica com Moisés?
Moisés está consciente do seu acto tresloucado. No entanto há sentimentos que o levam a agir. Matar o egípcio que está dentro dele e que ele projecta no egípcio que bate no israelita com quem ele se identifica.
“Naqueles dias, sendo Moisés já grande, saiu a ter com os seus irmãos e atentou para as suas cargas. Ele viu que um egípcio feria a um hebreu dentre os seus irmãos.
“Olhou de uma banda e de outra banda, e vendo que ninguém ali havia, matou o egípcio, e o escondeu na areia.
“Tornou a sair no dia seguinte, e viu dois hebreus que contendiam. Perguntou ao culpado: Porque feres a teu próximo?
“O homem respondeu: Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Então temeu Moisés, e disse: Certamente este negócio foi descoberto.” Êxodo 2:11-15
Moisés compreende que é recusado como Israelita; e, neste caso, só há uma saída, pensa ele: fugir.
– Foge dele próprio. Mas quando fugimos de nós, não conseguimos fugir dos nossos próprios problemas.
– Foge dos Israelitas. Do seu povo, dos seus irmãos de sangue, que o acusam e o rejeitam.
– E foge do povo. Com quem nunca se sentiu identificado, os egípcios.
Foge.
Pergunto, alguém está a fugir aqui esta noite? Alguém sente que não sabe para onde ir, nem onde se refugiar?
– Foge dele próprio,
– Foge dos seus familiares,
– Foge porque as suas necessidades interiores não são atendidas?
Será que há alguém que sente que tudo foge ao seu redor?
Então eu estou a falar para si. A voz que está a ouvir é a minha, mas quem toca nos seus sentimentos mais profundos, nas feridas abertas que tem no seu coração, é Deus.
Moisés andou a vaguear no deserto durante 40 anos e um dia, aparentemente por um acaso, encontrou Deus.
Mas foi Deus que o procurou. Finalmente Moisés está pronto para encontrar-se com Aquele que pode trazer-lhe a cura interior.
E sabem como?
Moisés percebe que qualquer coisa de especial está a acontecer. Uma sarça do deserto arde e não se consome.
Sabem, quando encontramos Deus, a percepção da Sua presença não se faz sentir apenas de forma exterior, física. Mas, especialmente no interior, nós sentimos aquilo que ninguém pode negar.
E Moisés sente-se na presença de Alguém que nunca está longe. Alguém que é o Único que tem respostas para todas as nossas perguntas:
E clama: “Senhor, quem sou eu?” Êxodo 3:11
Conhecendo-se, ele compreenderá os seus próprios traumatismos de criança.
Não é difícil para Deus explicar-lhe, mas é difícil para Moisés compreender, compreender que somos parte dum processo que por vezes leva anos a compreender.
Deus, no entanto, está pronto a fazer o percurso com Moisés e como um pai amoroso explica tudo, calmamente, ao filho.
Moisés, confuso, balbucia, com a voz a tremer: “Quem sou eu...?”
– Eu não sou nem Egípcio nem Israelita.
– Matei o Egípcio para ser Israelita, para me identificar com o povo que é o meu povo.
– Os Israelitas não me aceitaram, não me compreenderam.
– Quem sou eu?
A psicologia moderna permite-nos compreender a profundidade dos traumas sofridos por Moisés. Sabendo que o equilíbrio emocional da criança se estrutura durante a gravidez e nos primeiros meses de vida.
Ainda no ventre materno.
Sabendo que a filosofia de base da nossa vida e a formação harmoniosa da nossa personalidade são construídas nos primeiros cinco-sete anos de vida.
Durante esse período Moisés tinha mudado de mãe, de cultura, de língua, de religião ... tudo se tinha alterado completamente neste tão importante período de formação.
Um homem ou uma mulher nutrindo sentimentos de indesejado, não pode ser feliz.
Pode ser um bom profissional.
Pode ser um bom pai ou uma boa mãe.
Pode ser um bom cristão.
Mas não é feliz.
Deus responde a Moisés duma forma sublime, dizendo-lhe quem Ele é. Conhecendo quem é Deus realmente, Moisés vai descobrir-se a ele próprio. Ficou a saber que estava nos planos de Deus. Que, amorosamente, o Senhor que fez o céu e a terra nunca o tinha perdido de vista.
David
Deixem-me que vos fale de outro homem da Bíblia que se sentiu indesejado: David.
Talvez David nunca tivesse nascido se a esposa de Jessé, o belemita, conhecesse os métodos contraceptivos que existem hoje. De facto, eles já tinham sete rapazes.
A verdade é que Deus manda Samuel ir a casa de Jessé, dizendo-lhe que tinha escolhido “dentre os seus filhos... um rei.”
Vejamos o texto bíblico:
“Enche o teu vaso de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita. Dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.” I Samuel 16:1
Samuel dirige-se a Belém onde vivia a família e todos os anciãos lhe saem ao encontro.
“Tremendo, perguntaram: É de paz a tua vinda?” I Samuel 16:4
“Respondeu ele: É de paz; vim sacrificar ao Senhor. Consagrai-vos e vinde comigo ao sacrifício. Então ele consagrou a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o sacrifício.” (verso 5)
“Entrando eles, Samuel viu a Eliabe, e pensou: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.” (verso 6)
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura,... porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (verso 7)
“Então chamou Jessé a Abinadab: e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o Senhor.” (verso 8)
“Então Jessé fez passar a Sama: porém disse: Tão pouco a este tem escolhido o Senhor.” (verso 9)
“Assim fez passar Jessé a seus sete filhos diante de Samuel: porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não tem escolhido a estes.” (verso 10)
“Assim perguntou Samuel a Jessé: Acabaram-se os teus filhos? ... Ainda falta o menor, que está apascentando as ovelhas. ...” (verso 11)
Jessé e a esposa, para um evento tão importante como este em que um dos filhos iria ser escolhido rei de Israel, esqueceram-se do filho mais novo... para eles não possuía atributos para ser rei.
Deus viu de outra maneira: “Levanta-te e unge-o; é este mesmo.” (verso 12)
Nem sequer tinha passado pela cabeça do pai tal coisa. O rapaz só servia mesmo para guardar ovelhas.
David, quando soube o que se tinha passado certamente sofreu, sentiu-se posto de lado.
Quando os seus três irmãos mais velhos foram para a guerra, David só serviu para ser o criado e levar-lhes pão e queijo.
(Texto bíblico:)
“Ora, disse Jessé a David, seu filho: Toma para teus irmãos um efa deste grão tostado e estes dez pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
“Leva também estes dez queijos ao seu comandante de mil. Visitarás a teus irmãos, a ver se vão bem, e trarás notícias deles.” I Samuel 17:17, 18
O irmão mais velho trata-o com desprezo: “Ouvindo Eliabe, seu irmão mais velho, (David) falar àqueles homens (os soldados de Saul), acendeu-se a sua ira contra David, e disse: Porque desceste aqui? E com quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração...” (verso 28)
“Disse David: Que fiz eu agora? Não posso nem fazer uma pergunta?” (verso 29)
“Não tenho direito a falar? Sou vosso criado?”
“Pedi porventura para vir aqui? Será que fui eu que pedi para nascer? Será que não tenho direito a falar, a ter um lugar onde colocar os pés? Sou assim tão miserável?”
Estas são perguntas que estão no seu coração em consequência do modo como é tratado pelos pais, e pelos irmãos. David sentia que estava a mais em todas as situações. Sentia que não era desejado. E eu digo-vos que não há sentimento mais esmagador do que este. Ser expulso do direito à vida.
Será que alguém que me ouve possui este mesmo sentimento?
David só serve para levar recado, fazer o trabalho menor. Saber o que se passa com os irmãos mais velhos mas sem direito a participar.
Para ele só vai o último olhar, a última palavra, o último gesto? Vai o supérfluo, o desnecessário?
Então vou dizer-vos: nada faz doer mais do que isso. É uma dor não exterior, daquelas onde não se pode colocar desinfectante, é uma ferida que só o amor pode curar, mas esse medicamento não se encontra facilmente à disposição.
Este desprezo manifestado pelo pai e pelos irmãos, marcou-o e complexou-o.
Analisemos a sua auto-estima. Por exemplo: quando o rei Saul lhe dá a sua filha Merabe em casamento, David responde:
“Quem sou eu, e qual é a família de meu pai em Israel, para vir a ser genro do rei?” I Samuel 18:18
Mais tarde, o rei Saul, possuído por um espírito maligno não se controla, persegue David por montes e valados. David tem oportunidade de o matar mas não o faz. Vendo o rei de longe, grita:
“Após quem saiu o rei de Israel? A quem persegues? A um cão morto? A uma pulga?” I Samuel 24:14
David considerava-se como uma pulga. A sua família tinha-lhe certamente aplicado este diminutivo, como alcunha.
Deus, que vê mais do que a família, viu nele um rei. Escolheu David, elegeu-o. Foi nesta compreensão do valor que ele tinha aos olhos de Deus que David encontrou a cura para os seus complexos de inferioridade.
David compreendeu que Deus o amava e que era Ele que lhe dava a identidade de ser: ser pessoa, ser homem, ser à imagem de Deus. Mais tarde David escreve:
“Pois criaste o meu interior, entreteceste-me no ventre da minha mãe. Eu te louvo porque de um modo terrível e maravilhoso fui formado. ... Quando fui entretecido nas profundezas da terra, os teus olhos viram o meu corpo ainda informe.” (Salmo 139:14-16)
David estava no pensamento de Deus desde o princípio. Mesmo quando ainda não tinha sido gerado no ventre da sua mãe, Deus já o conhecia.
Deus ainda não tinha formado o primeiro átomo e já conhecia a David. O mesmo se pode dizer em relação a qualquer um de nós.
Somos únicos para Deus, não somos a cópia de ninguém, somos à imagem de Deus.
Foi Deus que decidiu que Moisés e David existissem, viessem à vida, e isto com um objectivo bem preciso, muito concreto.
Nós estamos aqui porque Deus o quis não só no sentido espiritual, mas de forma humana e material. Sem entrar em questões sobre a soberania de Deus e a liberdade do homem, afirmamos: Deus desejou-nos.
Ele amou-nos e viu-nos antes do fundamento do Universo. Ele não esperou que eu chegasse à terra para me dizer: “Bem, como tu nasceste, vou fazer com que as coisas te corram desta ou daquela maneira. Vou amar-te ou desprezar-te.”
Deus amou-me desde sempre, porque desde sempre estive no Seu plano. E isto não se aplica só a Moisés ou a David, mas a cada ser humano que vem a este mundo. É verdade que Deus ama toda a humanidade:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16
Mas ama cada um de forma pessoal. Não se trata de um conceito individual. Jesus afirma a cada passo do Seu ministério este grande amor. Jesus ama-me porque Ele desejou que eu existisse.
David não acreditava nem na Cegonha, nem na origem pela Evolução. Ele acreditava que a nossa origem está no pensamento de Deus, lá na origem do tempo.
Quando a Terra ainda estava informe e vazia, no magma original, Deus viu Adão, esculpido do pó, e viu também cada um de nós.
E eu creio que Deus viu todas as circunstâncias da nossa vida desde a concepção. O meu nascimento no dia 25 de Julho de 1946. Deus viu o pai que tive e a mãe. Não houve nenhum acaso, nenhum acidente.
Será que esta noite podemos dizer:
Deus pensou em mim antes do meu nascimento.
Deus quis que eu nascesse.
Deus criou-me para Sua glória.
Deus escolheu-me.
Deus quer que eu desfrute de paz interior.
Não voltarei a dizer.
Não sirvo para nada!
A minha vida não tem sentido!
Sou uma pulga sem valor, um verme!
Sou um acidente, um fruto não desejado!
Pr. José Carlos Costa
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