7
de Fevereiro de 1992. Na cidade holandesa de Maastricht era assinado o
Tratado que ficou conhecido pelo nome dessa cidade, mas também como o
Tratado da União Europeia. Iria entrar em vigor a 1 de Novembro de 1993
e, entre outras coisas, iria mudar o nome de Comunidade Económica
Europeia (C.E.E.) em União Europeia (U.E.), porque, pela primeira vez,
se admitia de forma clara e formal que a Comunidade Europeia seria,
doravante, não meramente uma Comunidade de países europeus de carácter
económico, mas igualmente uma Comunidade com carácter monetário e até
político. O Tratado de Maastricht (que substituía o Tratado de Roma, de
1957) criava, por isso, um calendário bem preciso para a entrada em
funcionamento de uma moeda única europeia antes do final da década, do
século e do milénio!
Na altura, estando eu em França
(durante os meus estudos na Faculdade Adventista de Teologia de
Collonges-sous-Salève), tomei conhecimento de que o Governo francês
distribuiu gratuitamente, via postal, um panfleto informativo sobre esse
Tratado de Maastricht em todos os lares franceses. Lembro-me igualmente
de, nessa época, ter ouvido alguns comentários, entre adventistas do 7º
dia, alegando que tal União nunca se viria a concretizar e que a moeda
única europeia nunca passaria de uma mera intenção! Recordo-me
igualmente que, nessa altura, ousei afirmar que acreditava plenamente
que viríamos a ter uma moeda única europeia e que a união da Europa
seria uma realidade. Passados mais de 16 anos desse Tratado de
Maastricht, a moeda única europeia (baptizada de Euro aquando da Cimeira
de Madrid, em Dezembro de 1995) é uma realidade incontestável em 15 dos
27 países que constituem actualmente a União Europeia .
Os que se mostravam cépticos
relativamente à entrada em circulação de uma moeda única europeia e ao
aprofundamento político da Europa, tiravam as suas convicções da leitura
da profecia de Daniel 2, e particularmente do versículo 43: “Quanto ao
que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante
casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se
mistura com o barro.” (negrito acrescentado). Estará esta profecia
milenar a falhar, precisamente neste período crucial da História, antes
da Segunda Vinda de Cristo, depois de se ter mostrado verdadeira durante
séculos? Será que teremos de rever a nossa interpretação tradicional da
profecia de Daniel 2? Ou será apenas que alguns, no passado, não
conseguiram simplesmente explorar toda a riqueza da profecia de Daniel 2
à luz de outras profecias bíblicas?
A PROFECIA DE DANIEL 2
Antes
de mais deixem-me relembrar-vos aquilo que todos sabem a respeito da
profecia de Daniel 2: trata-se de uma profecia que cobre um período
enorme de tempo, nada mais, nada menos do que um período aproximado (por
excesso) de 2500 anos. Por esta mesma razão, facilmente se compreende
que a profecia não entra em detalhes minuciosos sobre um qualquer
período específico de tempo que faça parte integrante do período global
de tempo a que ela se refere. Com isto pretendo apenas dizer que a
profecia de Daniel 2 é como uma lente “grande angular” que permite ter
uma visão sintética da História nas suas grandes linhas, linhas essas,
contudo, que são perfeitamente suficientes para se visualizar um “fio
condutor” da História extremamente compreensível. Contudo, Daniel 2 não
esgota todos os detalhes proféticos! Se assim não fosse, não seriam
necessárias outras profecias (nomeadamente as profecias dos capítulos 7,
8, 9 e 11 do próprio livro de Daniel), que nada mais fazem do que
ampliar a “matriz básica” fornecida por Daniel 2! A cena do julgamento
no céu, em Daniel 7:9-14 (com a correspondente explicação nos versículos
22, 26 e 27), a purificação do santuário, em Daniel 8:13-14 e 26, em
conexão íntima com o julgamento no céu, a profecia das 70 semanas em
Daniel 9:24-27 e a especificidade do conflito norte-sul em Daniel
11:5-45, são dados proféticos preciosíssimos que simplesmente não
aparecem mencionados em Daniel 2! Contudo, não é menos verdade que estes
dados proféticos que acabei de referir não seriam seguramente tão bem
compreendidos, pelo menos sob o ponto de vista cronológico, se não fosse
a tal “matriz básica” que nos é fornecida por Daniel 2! Resumindo:
Daniel 2 é uma profecia extremamente importante, visto nos dar uma
imagem do quadro geral de acontecimentos. Contudo, por ser tão sintética
não poderia ser, obviamente, muito analítica! Daniel 2 dá-nos uma visão
global do tempo – desde os dias de Daniel (“depois disto” – Daniel
2:29) até aos “últimos dias” (Daniel 2:28) – mas não nos dá uma
compreensão pormenorizada de nenhum tempo específico, nomeadamente do
tempo do fim. Para ficarmos com uma noção mais precisa dos
acontecimentos do tempo do fim, a profecia de Daniel 2 é pura e
simplesmente insuficiente ! Este tem sido, a meu ver, o erro que, talvez
de forma ingénua, se tem comummente cometido! E este erro seria
simplesmente irrelevante se não fosse responsável por lançar dúvidas
sérias na mente de muitos estudantes da profecia bíblica, por verem a
incoerência entre o que “está profetizado” e a realidade que está diante
dos nossos olhos!
UMA UNIÃO GLOBAL NOS ÚLTIMOS DIAS
Tal
como acima referi, assim como os outros capítulos proféticos do livro
de Daniel lançam luz adicional sobre a profecia específica de Daniel 2,
assim o livro de Apocalipse (livro do mesmo género literário do livro de
Daniel) lança luz adicional não só sobre a profecia específica de
Daniel 2 mas igualmente, e em particular, sobre os acontecimentos do
tempo do fim. Ora é justamente no livro de Apocalipse que encontramos
uma outra profecia específica que alarga consideravelmente, e de forma
correcta, a nossa compreensão de Daniel 2 e dos acontecimentos do tempo
do fim. Trata-se da profecia que está contida em Apocalipse 16:13-14.
Passo a transcrever o seu conteúdo: “Então, vi sair da boca do dragão,
da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos
semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demónios, operadores de
sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los
para a peleja do grande Dia do Deus Todo-poderoso.” (negrito e
sublinhado acrescentados). Leram bem? O que é que “espíritos de
demónios” farão nos últimos dias (esta passagem aparece no contexto do
derramamento das 7 últimas pragas!)? Dirigir-se-ão “aos reis do mundo
inteiro” (isto é, aos líderes máximos de todas as nações)! Com que
objectivo? “Com o fim de ajuntá-los”! Este “mundo inteiro” aqui
referido, certamente que inclui a Europa, ou não acham que assim seja?
Se há continente que não deixará seguramente de estar “na mira” dos
demónios, esse continente é seguramente a velha Europa “cristã”, onde
está sediado o grande poder que dominará o mundo nos últimos dias!
Então, segundo esta profecia do livro de Apocalipse, haverá ou não uma
tendência crescente para a unificação das nações entre si? Importa
igualmente referir que a acção desses “espíritos de demónios”
mencionados, que conduz os “reis do mundo inteiro” a uma união global,
não acontecerá de um dia para o outro, mas será um processo gradual que
atingirá o seu clímax no tempo de “Armagedom” .
COMO RECONCILIAR AS DUAS PROFECIAS?
A
profecia de Apocalipse 16:13-14, se bem que lance imensa luz sobre os
acontecimentos do tempo do fim, não invalida, contudo, nenhum aspecto da
profecia de Daniel 2! Parece contraditório o que acabo de referir? Não,
não é! Daniel 2 afirma, e devemos acreditar nisso, que “certo é o
sonho, e fiel, a sua interpretação” (Dn 2:45). Portanto, se os “reinos”
que existirão imediatamente antes que “o Deus do céu [suscite] um reino
que não será jamais destruído” (Dn 2:44) “não se ligarão um ao outro”
(Dn 2:43), então podemos ter a certeza que assim será! Por outras
palavras, esses “reinos” não estarão na verdade ligados na sua essência,
ou seja, não haverá uma unidade real e genuína a uni-los, MAS estarão
estrategicamente ligados entre si, movidos (talvez alguns deles
inconscientemente) pelos tais “espíritos de demónios” que os ajuntarão
com o único objectivo de eles poderem apresentar uma frente unida contra
o povo de Deus! A crise final pela qual Jesus passou oferece-nos um
exemplo perfeito do que acontecerá ao povo de Deus durante a crise final
da História deste mundo! Também Jesus enfrentou, Ele próprio, a
coligação de forças que nunca estariam coligadas entre si, não fosse a
necessidade de Satanás apresentar uma frente unida contra Jesus: “Mas
Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-O com desprezo, e,
escarnecendo d’Ele, fê-lo vestir de um manto aparatoso, e o devolveu a
Pilatos. Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois,
antes, viviam inimizados um com o outro.” (Lucas 23:11-12). Também
fariseus e saduceus se coligaram contra Jesus (ver Mateus 16:1), mas
isso não significava que se encontravam realmente ligados entre si pois,
anos mais tarde, já os encontramos de novo em conflito uns contra os
outros (ver Actos 23:6-8).
CONCLUSÃO
Penso
que já devem ter visualizado o quadro completo! Teremos, no tempo do
fim, uma Europa coligada, mas não verdadeiramente unida entre si! E esta
é a realidade que todos nós podemos observar actualmente ! Reparem que a
profecia de Apocalipse 16:13-14 não afirma que os “espíritos de
demónios” “se dirigem” aos povos do mundo inteiro, mas antes aos seus
líderes, “aos reis do mundo inteiro”, porque conseguindo um
consentimento entre os líderes, os liderados acabam por seguir, mesmo
por vezes contrariados, “a reboque” daqueles! A construção da União
Europeia está sendo feita, desde o início, não a partir das bases, dos
povos, mas sim a partir das cúpulas institucionais
político-administrativas! Isto dá-nos a certeza de quem é que está
verdadeiramente a trabalhar nos bastidores! Por detrás dos múltiplos
acordos que se têm conseguido, e que fazem os políticos europeus
parecerem grandes promotores da unidade europeia e da paz, estão – eu
sei que não é politicamente correcto afirmar isto, mas é a verdade! –
“espíritos de demónios” trabalhando afincadamente para unir
estrategicamente todo o mundo, a fim de não deixar, humanamente falando,
num futuro próximo, nenhuma possibilidade de escape para aqueles que
pretenderem permanecer leais aos “mandamentos de Deus e à fé de Jesus”
(Ap 14:12)!
No período histórico que se
seguiu à ascensão de Cristo ao céu e ao derramamento das “primeiras
…chuvas” (Tiago 5:7) ou “chuva temporã” (Joel 2:23) sobre a Igreja, esta
pôde-se expandir facilmente porque o mundo estava quase inteiramente
sob o controlo de um poder político-administrativo único – o poder da
Roma Imperial. Isso trouxe muitas vantagens, pois não havia fronteiras
no interior do Império Romano que a impedissem de se espalhar, as vias
de comunicação terrestres e marítimas eram excelentes e, em poucos anos,
o Evangelho espalhou-se de tal maneira que Paulo pôde dizer, em
Colossenses 1:23, que o Evangelho “foi pregado a toda a criatura debaixo
do céu”.
No período histórico que
antecederá a vinda d’Aquele que “virá do modo como o vistes subir”
(Actos 1:11), e sob o efeito das “últimas chuvas” (Tiago 5:17) ou “chuva
…serôdia” (Joel 2:23), também a Igreja remanescente usufruirá de muitas
vantagens que lhe permitirão expandir facilmente a sua mensagem
evangélica devido ao facto do mundo estar sob o controlo de um poder
único – o poder de Roma Papal, apoiado politica e religiosamente pelos
EUA (ver Apocalipse 13) – unificação essa que fará com que não haja
fronteiras internas e que as vias de comunicação (terrestres, aéreas,
electrónicas - TV satélite, Internet e outras) sejam excelentes para
permitir que o Evangelho seja pregado “por todo o mundo, para testemunho
a todas as nações. Então, virá o fim” (Mateus 24:14). Aleluia!
Nada do que está a acontecer,
meus queridos irmãos, está fora do controlo d’Aquele que tudo comanda!
As profecias bíblicas permitem-nos ter uma visão claríssima dos
acontecimentos do tempo do fim! Elas estão realmente a ser, para nós que
atendemos à sua mensagem pertinente, “uma candeia que brilha em lugar
tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em [nossos
corações]” (2 Pedro 1:19). Deus seja louvado!
Pr. Paulo Cordeiro